sexta-feira, abril 08, 2011

O regresso da realidade

A geração que tomou o poder após a queda do velho regime acreditava genuinamente que se havia gente que não vivia bem em Portugal a única razão era a caturrice e a mesquinhez incompreensíveis de um velho tirano de vistas curtas. Agora, com eles - arejados, progressistas e europeus - era chegado o tempo das farturas; era só abrir a torneira e fazer jorrar o vinho e o mel.

Os valores salazaristas, o trabalho e a poupança, foram objecto de troças sem fim. As preocupações de antigamente com finanças e contas públicas foram satirizadas em discursos e anedotas. Passados mais de trinta anos, ainda um bom representante dessa geração, então Presidente da república investido, zombava das velhas superstições lembrando que havia "mais vida para além do défice".

Os partidos competiram nas promessas, sempre no mesmo sentido: era o melhor o que mais oferecesse, e menos exigisse. Durante quase quatro décadas, todos os próceres da situação seguiram no mesmo caminho. Era preciso termos serviços de saúde como na Inglaterra, reformas como na França, subsídios de desemprego como na Alemanha, ordenados como os tinham na Bélgica, na Holanda ou no Luxemburgo. As comparações que se faziam com toda a naturalidade eram sempre assim, no mesmo sentido, sem ninguém suscitar a dúvida sobre se teríamos economia para isso, ou se a produtividade local bastava para sustentar a despesa a esses níveis.

Durante anos e anos, graças aos recursos acumulados e a outros que vieram de fora, foi possível prolongar a extravagância. Distribuiu-se riqueza, e os portugueses viveram bem. Todos em geral, e alguns muito em particular.

Paralelamente, e como esse ritmo de vida parecia aguentar-se independentemente de qualquer factor interno, a política seguida consistiu em desfazer anacronismos dos velhos tempos. Foi a "modernização", nos campos, nos mares, nas indústrias. Desfez-se a agricultura, prescindiu-se da pesca, dispensou-se um mínimo de produção nacional.

A geração chegada ao poder com a revolução comportou-se como o filho estarola que chega finalmente à posse da herança, fruto da casa mantida de pé pela prudência e labor da geração antecedente. Era só festa, e o povinho gosta de festa.

Com o passar dos anos, chegou-se à situação lógica e previsível. Um nível de despesa insustentável, ausência de quaisquer meios próprios para fazer face às necessidades, e um mundo de credores a bater à porta.

1 Comments:

At 8:00 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Estes parasitas da sociedade, que têm descaramento para tudo, acabaram com muitas e inteligentes medidas económicas que o anterior regime implementou - e fê-lo, primeiro porque teve o dificílimo encargo de endireitar as contas públicas, arrazadas pelos antecessores da quadrilha de ladrões dos dias de hoje; depois porque a guerra e o período do pós-guerra o exigiam imperiosamente - dizendo, entre outras atoardas falsas, que vivíamos numa paz podre na 'ditadura' e que o futuro ia ser de fartura para todos os portugueses e que essa coisa de poupar tinha definitivamente acabado e que, com a entrada da democracia, o nosso país havia encontrado o el dourado e ia tornar-se desenvolvido e rico (e por extensão, estancar-se-ia para sempre a malfadada e criminosa emigração, culpa do anterior regime que não conseguia dar emprego a essas gentes. É preciso não esquecer o que estes peralvilhos mentirosos armados em grandes senhores, disseram anos a fio... A verdade é que a emigração no regime anterior comparada com esta, que já se estende há quase quarenta anos, era uma brincadeira de crianças).
E para se mostrarem altamente competentes e conhecedores absolutos da coisa pública, é então que os políticos 'democráticos', entre outras burrices monstras, sugerem que nada de poupar e guardar: fora com garrafas de vidro, tampas, rolhas, papéis de toda a espécie, jornais, revistas, cartões, plásticos, etc., etc., tudo para o lixo. Estas práticas só se usavam nos países do terceiro mundo... não em "democracias" como a 'nossa'!

Agora e isto já desde há uma ou duas décadas, o que é que se ouve da boca dos mesmíssimos patifões? Eles pedem aos portugueses, com todo o descaramento do mundo, que guardem e separem, para depois depositarem nos contentores adequados..., vidros, papéis, revistas, jornais, cartões, garrafas, garrafões, plásticos, pilhas, etc., etc.!!! Em resumo, há contentores para tudo e mais alguma coisa e os moderníssimos políticos da nossa praça pedem, imploram, repetidamente aos portugueses aquilo que nem Salazar lhes exigiu!, porque não era necessário e porque o povo via que ele próprio dava o exemplo. Aliás os portugueses faziam-no por uma questão de bom senso e naturalmente de poupança, como os tempos o exigiam. E tanto ricos como pobres tinham este saudável hábito. É claro que os mais pobres, como é óbvio, disso retiravam algum proveito material.

Então? Afinal quem estava certo? Salazar, é claro. Ele tinha carradas de razão nas medidas que aprovava, ensinando - pelo seu exemplo - o povo a economizar (como aliás em muitas outras, primeiro ridicularizadas e muito mais tarde adoptadas pelos psicopatas do actual regime), evitando desperdícios desnecessários e insensatos.
Se a mentira, a maldade, o oportunismo, o cinismo e a hipocrisia matassem, estes milhares de loucos que temos tido como 'governantes' ao longo de demasiadas décadas, estavam a fazer tijolo há quase tantas quantas as que levamos de 'democracia'.
Maria

 

Enviar um comentário

<< Home