segunda-feira, março 09, 2009

Radiografia

Em Portugal há muito quem se governe e não se preocupe com o país”. “Os partidos têm dado muito maus exemplos”. Quem o diz é uma autoridade moral a quem todo o país venera e respeita - a Dra. Fátima Felgueiras. Que na ocasião aproveitou ainda para incentivar ao aparecimento de mais independentes, que é que o país precisa (disse ela). O recado era em primeiro lugar dirigido a Narciso Miranda, anfitrião no Jantar da Lampreia, mas não haja ilusões: a sementeira de Isaltinos e Valentins tornou-se praga incontrolável. Já aqui tinha escrito sobre isso, mas os tempos que se avizinham tornam ainda mais oportuna a lembrança. De facto, este é o ano de todas as eleições. Ainda há pouco tempo apareceu num jornal do Porto um artigo de Paulo Morais, o antigo vereador do Urbanismo, a recordar o que isto significa. Os rios de dinheiro que são indispensáveis para as máquinas partidárias, porque é só com esse combustível que elas funcionam, têm que vir de onde o há. E os métodos de angariação não podem ser muito diferentes do que têm sido até agora. Com a diferença que este ano terão que ser praticados em muito mais larga escala. Quem não alinhar, perde - facto que é conhecido e devidamente valorizado nos directórios partidários. Ironicamente, quando se fala de crise, este ano surge como uma época de oportunidades, quase única, para esse ramo de negócio. Um El Dorado para os especialistas, os intermediários, os homens dos sacos e das malas, uns azuis e outras pretas, que são o sangue e o nervo do regime.
Neste contexto, há duas certezas: a) se em períodos normais o discurso anticorrupção não tem gozado de receptividade nenhuma junto da classe política, neste ano que corre essa conversa não tem outra hipótese que não seja ser rechaçada como ruído desagradável e importuno; b) os tais, que a Dra. Fátima chama independentes, podem estar descansados que se há ano em que a sua força surge acrescida e temida é neste de maratona eleitoral. Nem precisarão, regra geral, de independentizar-se, que os responsáveis dos partidos não querem correr o risco de perder Câmaras e apoios (na verdade até são mais os que estariam dispostos a pedir desculpas por intransigências passadas).
As notícias recentes sobre velhos negócios de submarinos, de sobreiros, de licenciamentos imobiliários, de concessões e empreitadas (sempre relacionados com períodos pré-eleitorais) constituem uma amostra do que podemos ter como certo nesta temporada, mesmo que seja para só se saber anos depois.
Acontece que este sistema não é reformável. Os portugueses deviam tomar consciência disso, e agir em conformidade.