segunda-feira, fevereiro 23, 2009

Eternas Saudades do Futuro

Se há alguém muito cá de casa, desde que esta casa existe, é o João Marchante. Ainda com outro nome, mas já com a mesma generosidade, esteve desde o princípio entre os que acompanharam e encorajaram o que aqui se foi fazendo. Entretanto, lançou-se também nos seus próprios empreendimentos blogosféricos. Com outros, fomos depois companheiros noutros projectos na rede, caso da Alameda Digital e do Pela Vida.
Esteve sempre presente - é um exemplo permanente de disponibilidade e vontade de servir. Está hoje em destaque nesta página porque lhe calhou agora a ele ser importunado pelas minhas periódicas tentativas de conferir interesse ao que aqui ofereço aos leitores, recorrendo a alguém que possa dar o que manifestamente por cá não abunda. Respondeu às minhas impertinências com a serena elegância que o distingue. Uma marca pessoal - Eternas Saudades do Futuro, belo nome em ano de Vieira. Um blogue incomum, ao dispor do mais comum - vejam só os milagres da net.

1 - "Eternas Saudades do Futuro" é um projecto assumidamente individual. O que o levou a optar por esse modelo?
- O Eternas Saudades do Futuro é, de facto, um blogue pessoal — pessoalíssimo, até. Não resulta da razão, mas, sim, do coração, isto é, o que lá publico ocorre-me intuitivamente. Portanto, não se pode falar em opção. Porém, acredito que o que nos sai automaticamente é resultado da cultura que transportamos connosco: a que vem do berço, e a que adquirimos nas voltas da vida, com as respectivas opções estéticas e éticas, fruto dos mestres que nos ensinaram a ver, compreender e escolher.
2 - Gosta de se sentir um "redresseur des torts"?
- Não sei se estou à altura de tão nobre tarefa, correspondente a tal epíteto. Certo, certinho, é que nasci na época errada e tento viajar no tempo — afinal, temos 900 anos de História por explorar, com heróis, sábios e santos — procurando energia nas lições do passado para me projectar num renovado futuro. Sinto-me um vanguardista nas formas e um tradicionalista nos valores; contudo, procuro ainda a coerência que advirá da síntese desses dois vectores. Na arte e na vida.
3 - Quais as razões para que seja tão curto o tempo médio de vida dos blogues?
- Os portugueses têm muita dificuldade em acabar aquilo que começam. Também não lidam bem com a pontualidade. São, ainda, preguiçosos. Detesto todas essas características, que me fazem, aliás, assumir cada vez mais uma atitude misantrópica perante a gente que me rodeia e ter nos livros os melhores amigos. É ridículo observar que há blogues muito bem escritos mas totalmente vazios de ideias e vice-versa. Aproveito esta divagação, em tom de desabafo, para dizer que um blogue tem de ser sustentado por autenticidade e cultura. Estas duas características escasseiam, igualmente, hoje.
4 - Depois destes anos todos a observar a blogosfera, o que lhe parece que esta trouxe de novo à batalha das ideias e da informação?
- Perante o espanto e a admiração geral, a blogosfera portuguesa veio mostrar que há pessoas, desalinhadas com o pensamento único ditado pelo politicamente correcto, que pensam pela sua própria cabeça e que não se conformam com a ditadura cultural consentida por um sistema que há muito entregou aos intelectuais de esquerda a hegemonia cultural. O sistema trata da economia e dá de mão-beijada as artes e as letras a esses intelectuais. Uns e outros, ficam todos contentinhos com o acordo.
5 - O que espera ainda da blogosfera?
- Tudo. Pois só aqui Portugal poderá recuperar as tradicionais liberdades (que não a fictícia Liberdade) que nos foram legadas por D. Afonso Henriques e seus cavaleiros e que se têm vindo a perder irreversivelmente de há 200 anos para cá. Ena pá!, o que eu fui dizer...
6 - A forma mais eficaz de fazer política passa por dizer que não se faz?
- Não sei, eu não faço política...
7 - Comente as seguintes afirmações:
a) Só pode progredir o que permanece.

- Sem dúvida. Resistir é vencer, e vencer corporiza-se na belíssima imagem de um homem de pé entre as ruínas. O futuro é feito do que permanece depois de evaporada a espuma dos dias. Esse caudal que avança — de geração em geração —, unido por um invisível fio-condutor, é a Tradição. É por aí que vou.
b) Bloguismo rima com narcisismo.
- Já se sabe que bloguismo rima com diarismo; no entanto, importante é ter consciência que bloguismo rima com activismo: os blogues são as catacumbas do nosso tempo.
c) A internet abriu o caminho a um gramscismo tecnológico.
- Percebo pouco disso... Mas, a despropósito, apetece-me dizer, para rematar, que só haverá mudança de paradigma político se existir um ambiente cultural propício. Este, terá de ser necessariamente enformado por uma nova estética. Para mal dos nosso pecados, a esquerda percebeu isso no século XVIII. Reedificar a comunidade nacional orgânica, assente em valores tradicionais, que tem vindo a ser destruída desde aí, será tarefa só possível através da argamassa cultural fabricada na internet.

3 Comments:

At 5:13 da tarde, Blogger LADY-BIRD, ANTITABÁGIKA, FÃ DO JOMI LOL E JÁ AGORA DOS NOSSOS AMIGOS ANTI-TECNOLOGIAS: MARCHANTE (se não existissem tinham que ser inventados) said...

Boa Tarde Manuel Azinhal, vim aqui parar através do Eternas...
E ficava o dia aqui todo a aprender com o mestre... mas já acabou... foi curta... mas como diz alguém que conheço:
Curto e grosso, salvo seja, é o ideal!

beijinho

 
At 8:28 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Bonita entrevista.

Porque os Blogs afinal são uma extensão, senão mesmo a substituição a curto prazo, a generalidade da Imprensa tal como ela ainda é concebida e na medida em que suportam perfeitamente entrevistas de todo o género, englobando todo o tipo de personalidades e abordando os mais diferentes temas, exactamente como o fazem desde sempre os jornais e revistas, mas com a enorme vantagem de serem lidos por muito mais pessoas (com efeito já se contam por milhões) que de resto os estão a preferir relativamente à Imprensa tradicional, é de acreditar que este será um enorme passo ganho em seu favor com vista ao futuro - na realidade já presente - que há que agarrar com ambas as mãos e não deixar fugir.

Por exemplo, num futuro que se quer muito próximo, será possível apoiar candidatos às diversas eleições, que sejam totalmente independentes de partidos, através de Blogs especialmente concebidos para o efeito, em que entrevistas frequentes expondo os seus atributos políticos, qualidades pessoais, integridade, patriotismo, etc. e até textos por eles assinados e permanentemente actualizados, serão a norma. E a rampa de lançamento para candidaturas definitivamente ganhadoras.

Concordando em parte com o entrevistado quando afirma que há Blogs bem escritos mas falhos de ideias, ainda assim acrescentaria que o que é realmente muita pena é alguns deles - e refiro-me apenas aos que eu leio, como é bom de ver - não permitirem aos seus fiéis leitores uma contra-argumentação serena e construtiva, eventualmente numa perspectiva diversa, coincidente ou não com os pontos de vista dos autores, nos respectivos temas trazidos à estampa. Ou, se tanto, um cândido aplauso que os incentive a continuar. Não há nenhum escritor que os não aprecie.

No computo geral a blogosfera é de uma enorme valia, mais que não fosse
para o esclarecimento político dos eleitores e a consciencialização dos direitos e deveres de cada cidadão, a todos os níveis e em todas as áreas da sociedade.

Por último mas não nenos importante, caso os Blogs não possuíssem outros méritos e têm-nos, o simples facto de fornecerem vastíssimos conhecimentos nas mais diversas areas do saber a quem não tem possibilidade de os obter por outros meios e de ensinarem a raciocinar e sobretudo a bem escrever a nobre língua portuguesa, bastar-lhes-ia para se valerem por si próprios. E isto, temos de convir, não é tarefa pouca.
Pelos motivos expostos e por muitos mais, vivam os Blogs e os seus Ilustres autores.
Maria

 
At 12:24 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Um blog excelente, de facto.

Cumprimentos.

 

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