quarta-feira, novembro 26, 2008

A reacção é a vida: "O Pasquim da Reacção"

Honro-me hoje com as respostas do Corcunda, que desde Março de 2004 contribui poderosamente para elevar o nível médio desta blogosfera em que vivemos. Sem grandes resultados, aceita-se - porque com tanta gente a puxar para baixo dificilmente a média se altera, por maiores que sejam as alturas a que ele nos eleva. Porém, o que for feito permanece - e a obra do Pasquim da Reacção aí está para o provar a todos. Estultícia ou estupidez, será a explicação para a atitude dos que disserem nada ter a aprender ali. Até o Rui A. anda fascinado, pese embora lhe doa o visível desamor ao liberalismo ostentado no sítio. Há lugar para a esperança, ou que o Rui venha à tradição ou que a tradição chegue ao Rui.
E esta, estava eu aqui a falar do jovem Corcunda e acabei a falar no Rui Manuel, que já não é tão jovem assim (meu Deus, é que eu ainda sou menos!...).
Vamos então ao que interessa, que são as respostas do Pasquim da Reacção (eu só dei as deixas).

1 - Alguém afirmou em tempos que "um jornal é um organizador". Um blogue pode ser um organizador?
- Um blogue pode ter essa função de concertação de acções que o velho Lenine atribuía aos jornais. O Pasquim não. Tem como única função a organização de ideias e o contacto dos leitores com formas de pensar que não são dadas a conhecer nos meios habituais de comunicação.
2 - O que faz reagir o Pasquim? (Contra ou a favor... )
- O Pasquim reage contra a Injustiça. Não com as várias injustiças de que se vão fazendo os nossos dias, mas com a fonte de todos esses males. Quem combate sintomas e não causas está condenado a uma vida de trabalhos e de resultados nulos. Esta é uma reacção contra o nosso tempo e todo um sistema de pensamento que visa manter a obediência pela criação de uma ficção (o progresso, a liberdade, a igualdade, a semelhança morfológica) que está desligada da verdade, desligada da escolha essencial de qualquer sociedade (o bem ou o mal) e desligada mesmo das condições para proceder a essa escolha.
3 - No Alentejo diz-se que lavar a cabeça a burros é estragadouro de sabão. No Pasquim já se sentiu o mesmo?
- Numa era em que a visibilidade não vem da ponderação e da razoabilidade, mas da capacidade de fazer barulho e agitação, os burros têm sempre uma palavra a dizer. Não é, contudo, para esses que a mensagem deve ser dirigida, porque esses são sempre conduzidos... O problema são aqueles que não sendo burros, fecham os olhos a qualquer verdade. Há dias, quando saía de uma discussão sobre o Casamento Homossexual, fui abordado por duas alunas universitárias. Estas diziam que achavam que os meus argumentos eram escorreitos e não encontravam forma de os rebater. Perguntei-lhes depois se tinham mudado de opinião. Responderam-me que não e que embora tendo compreendido o que lhes estava a dizer, achando razão nos meus argumentos, não podiam mudar de posição, porque se tinham decidido a defender a legalização dessas uniões. Pior que a falta de inteligência é a transformação da inteligência em instrumento da vontade. Isso não é senão ideologia.
4 - Olhando para o caminho andado, valeu a pena fazer o Pasquim?
- O Pasquim foi sempre mais caminho do que destino. Mas um caminho árduo, com muitas noites perdidas para escrever textos que ninguém comentou, que foram mal-recebidos, insultados e alvo de interpretações malévolas. Isso só é compensado pelos leitores fiéis, por comentadores inteligentes, por gente que discorda, mas que quer compreender. O Pasquim é um diário de bordo de um percurso espiritual, moral, intelectual e político. A forma como tem afrontado as más intenções de uns e os erros de outros é apenas um feliz efeito secundário.
5 - É verdade que entre nós os que têm princípios não têm meios e os que têm meios não têm princípios?
- Vai me parecendo que os que têm meios já não estão entre nós. Não falo do “nós” no sentido gregário de “igrejinha”, da “direita almoçadeira”, da sacristia socialista e dos solidários profissionalizados. Quando alguém da Direita ganha notoriedade, a primeira coisa que faz é moderar-se para proteger esse bem essencial. Como a notoriedade é dada por terceiros, os escritores, articulistas, pensadores de Direita, acabam por encarreirar naquele segmento de gente que não acredita em nada a não ser em preservar a sua notoriedade, ser aceite nos círculos, think-tanks e empresas dos que têm capacidade para lhes dar difusão. Acabamos sempre com uma Direita desnatada, “standardizada” e ultra-pasteurizada, que não sabe a nada... Quais foram os grandes avanços, propostas e ideais da Direita portuguesa dos anos 80 e 90? O que é que conseguiram?
Quando vejo alguns líderes da Direita de outros tempos, em cargos e colunas de opinião que defendem o contrário do que sempre defenderam, não vejo vencedores. Nem sequer gente que sinceramente mudou de opinião. Apenas gente que achou que era mais importante que os fins por que lutava.
O anonimato tem, também, esta virtude de ser uma dieta para o ego.

6 - A blogosfera pode ser o meio que faltava? Para que fins?
- A blogosfera só pode servir para mostrar esses princípios e a sua importância, mas padece de um defeito estrutural. O blogue tem de ser procurado e, portanto, só atinge aqueles que se dispõem a saber o que estes dizem. Os meios de sucesso, detidos pelas empresas que se encontram enleadas nos grandes jogos de poder e recursos mundiais, são brutalmente mais invasivos e têm como destinatário os que os querem e os que os não querem ouvir. São o meio imprescindível para o controlo de um sistema político em que toda a diferença é permitida e, contudo, a uniformidade impera. Quando foi a última vez que ouvimos uma grande apologia da democracia na comunicação social? Esta, apesar de não fundamentada, é apresentada como um bem-essencial e quem a questione sabe que vai ter vida difícil, sobretudo por gente que não sabe do que é que esta se trata.
Se a blogosfera conseguir ser um veículo de contacto entre gente que não quer ser inserida a expensas das suas crenças mais fundamentais, já é uma ferramenta mais útil que quase tudo o que se tem feito.

2 Comments:

At 12:33 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Li o seu texto no Portugal Contemporâneo e de lá acabei aqui. Não concordo em parte com o ponto 6.

"O blogue tem de ser procurado e, portanto, só atinge aqueles que se dispõem a saber o que estes dizem."
Uma coisa não implica a outra. O facto de ser procurado não é uma desvantagem per si. O blogue é encontrado muitas vezes e esse facto é que importa. Também tem o conteúdo armazenado (e uma e outra vez procurável), ao contrário dos media tradicionais, que vão para o lixo, ou não são permanentes nem acessíveis. Um bom artigo seu, pode ser visualizado milhares de vezes por ano, aquivalendo, de facto, a um jornal ou revista.
Com uma diferença fundamental, que entre visualizado e lido (para não falar em compreendido) vai uma distância, a maior parte das vezes intransponível. É algo para que não vislumbro grande solução, porque a própria existência de tantos blogues e tanto conteúdo parece ser uma das principais causas. Até é um paradoxo.
Por exemplo o texto que me trouxe cá não deve ter sido lido por mais de 50 pessoas. A clicarem no link em baixo, talvez 20. É pouco para cerca de 1000 visitantes, mas não devo andar longe da realidade. O texto é grande demais para o meio (talvez devesse ter sido publicado por partes). E repare que sendo o blogue liberal e sabendo-se que a maior parte dos blogues pregam para convertidos (nesse sentido o seu texto lá é muito importante), não gerou discussão.
O meio é novo, tem características inovadoras e tem interesse. Se houvesse mais organização e colaboração (em vez do tradicional individualismo), vários podiam de facto ser jogadores. Repare que as empresas e partidos querem estar presentes, mas as que têm tentado falham rotundamente a maior parte das vezes (a última que me lembro foi a patética tentativa da SIC durante as eleições americanas). Mas nos EUA, onde estas coisas estão sempre uns passos à frente, blogues como o Hufington Post conquistaram leitores, demonstraram capacidade de organização e hoje, por uma fracção do orçamento dos media tradicionais, estão no topo.
O seu texto merecia ser lido por mais de 50 pessoas no primeiro dia. Mas num ano talvez chegue às 2.000, o que não será assim tão mau. -- JRF

 
At 7:05 da tarde, Blogger Nuno Adão said...

Não esperava outra coisa da entrevista ao Corcunda...

Parabens e cumprimentos

 

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