quarta-feira, outubro 08, 2008

Crises (I)

(um artigo de Nuno Rogeiro)

Quem pode dizer o que é o fim, o que é princípio, ou o que é o fim do princípio, ou o princípio do fim? Certamente que não os contemporâneos das mudanças. A única coisa que, prudentemente, podemos verificar é, por todo o Globo, a ocorrência de "perturbação".
Em Israel, foi alvo de atentado o professor Zeev Sternhell, sobrevivente dos campos de concentração, militante pela paz, grande estudioso dos fascismos europeus e dos "mitos" da fundação sionista. Quem o quis matar? A quem incomoda a sua voz, patriótica mas crítica? E que sinais dão os EUA, ao enviar, para uma base do deserto do Negev, o poderoso radar FBX-T, capaz de interceptar quase tudo? Ao Irão, dão a ideia de que não abandonam Israel. A Israel, dão a ideia de que deve acalmar-se.
Convulsão, ainda, na costa da Somália, com o crescimento da pirataria, e a ameaça sobre o comércio internacional. Quem são os flibusteiros? Uma mistura de gente miserável e desesperada, de oportunistas e de doutrinadores, aproveitando a abundância de armas e a ausência de estado. Por vezes, fazem - involuntariamente - justiça poética, e apresam navios que podem violar sanções internacionais. Mas são um cancro, e a Europa já se mobilizou.
Tremores, ainda, num recente e ambicioso inquérito da BBC, com dezenas de milhares de entrevistados, em 23 países dos vários continentes.
Pergunta: quem está a ganhar a "guerra ao terrorismo"? 49% acham que é um "empate", 22% afirmam que são os EUA, 10% a "al-Qaeda".
E as medidas americanas têm fortalecido ou enfraquecido o terrorismo? 30% acham que têm fortalecido, 22% que têm enfraquecido, 29% não sabem o que pensar.
Mais preocupante, no campo das percepções, o facto de a al-Qaeda despertar juízos positivos, ou "mistos", para 60% de egípcios e 25% de nigerianos, e só ser considerada "negativa" por 19% de paquistaneses.
Anormalidade, ainda, no Cáucaso. Os observadores da União Europeia chegarão a uma conclusão sobre "quem começou"? Uma coisa terão percebido, a partir das opiniões russas: a intervenção de Moscovo não tem nada a ver com o Kosovo, apesar de algumas análises infantis, mas com o argumento de que Saakashivilli é um "irresponsável" e um "genocida".
Sempre sobre solavancos, ouvimos o presidente Medvedev afirmar, perante a placidez da senhora Merkl, que "acabou o domínio americano no Mundo".
Os empresários alemães presentes, cépticos quanto aos planos de perdão das más dívidas, sorriem educadamente, pensando em duas coisas: ter boas relações económicas com Moscovo, e não deixar a retórica belicista triunfar, é uma chave de sucesso; por outro lado, Berlim não parece contente com a maneira como Bush quis solucionar a "crise".
No Paquistão, o novo chefe dos serviços secretos centrais (ISI), o operacional "tecnocrata" Ahmed Pasha, reflecte sobre tudo isto. Como ser aliado dos EUA, e proteger as fronteiras, contra os próprios EUA? E como reagir ao próximo presidente americano?
No primeiro debate de campanha, os dois candidatos prometeram que atacariam a al-Qaeda, se fosse preciso dentro do Paquistão. A diferença é que McCain não o diria, e Obama sim.
Percalços, por fim, na Europa e no G8, mobilizados a toque de caixa por Sarkozy. Como se sai da "falta de dinheiro", que chega a perturbar os mercados ricos dos xeques do Médio Oriente?
Poderá a China, semicapitalista, ajudar?
E as más raízes saneiam-se pelo arranque, ou pela enfermagem cuidada, com protecção estatal?
E é "crise", ou morte anunciada?
E de quê?

1 Comments:

At 10:41 da manhã, Blogger JP said...

Um comentário pode ser tudo o que se pretenda.
Neste caso, serve para transmitir o meu agrado por ter vindo parar a este blog em busca do sexo dos anjos.
Vejo claramente um universo com mais questões do que respostas, mas, sabendo que as soluções nem sempre são óbvias ou fáceis, prometo prestar mais atenção ao que se aqui se escreve no futuro.
Cumprimentos

 

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