domingo, setembro 14, 2008

Os estrangeirados

"Quem são os estrangeirados? São os que, entre nós, começam por rebaixar a tradição histórica portuguesa. Depois, os mesmos que, com ares de erudição parasitária e monografista, imitam tudo o que se faz e pensa lá fora, para assim, numa atitude de total e passiva subserviência mental, aderir aos sistemas e ideologias com que a Europa nórdica e central se impõe aos povos do Sul. Por fim, os que, apanhados na rede universitária, nunca mais, pelo menos nesta vida, saberão o que seja, no seu carácter único e inconfundível, a arte, a cultura e o pensamento dos Portugueses."
(por Miguel Bruno Duarte, na revista LEONARDO)

2 Comments:

At 8:49 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Não consegui aceder à LEONARDO através do link, talvez o problema seja temporário. Porém este pedaço de crítica acutilante, aliás correctíssima, fez-me lembrar aquela que faz o Dr. Godinho Granada no artigo que escreveu no Diabo de há poucas semanas. Tudo o que este Senhor escreve deve ser obrigatòriamente lido, primeiro pela sua constante actualidade e depois pela qualidade da escrita e a clareza de ideias que lhe empresta. E já que falo no Diabo destacaria ainda, entre outros, os sempre excelentes artigos do Prof. Soares Martinez, igualmente imperdíveis.
Hei-de voltar a este importante tema, agora entro sómente um pouco nele, alargando-me a outro que lhe está ìntimamente ligado. A nossa língua anda cada vez mais pelas ruas d'amargura e caminha a passos largos para a extinção ou pelo menos para a sua criminosa e total adulteração, se quem a prezar verdadeiramente não travar este escândalo. Desde há bastante tempo e porque, sendo o português uma língua paupérima em vocabulário, como se sabe, não temos tradução para quase nenhum vocábulo estrangeiro... portanto toca a entrar nos estrangeirismos à força. É chocante e inteiramente despropositado o que se ouve todos os dias nas televisões sair da boca para fora dos locutores, jornalistas, comentadores, artistas, apresentadores, convidados e políticos que falam em mesas redondas, quadradas, triangulares, ovais e bicudas. Os estrangeirismos (e outros ismos) salvo raras excepções, admitem-se perfeitamente por exemplo no discurso oral, na literatura e n'alguns artigos de imprensa, sempre sem grandes exageros, mas nunca nas televisões por todos os motivos e mais um, sobretudo por soarem ao mais piroso e possidónio que imaginar se possa. Em alguns artigos de jornal e sobretudo em Blogues, podem e até devem empregar-se mas novamente sem exageros excessivos (menos na imprensa do que em Blogues, neste por exemplo os termos informáticos são perfeitamente admissíveis ainda que haja tradução portuguesa para quase todos eles) termos, expressões e/ou vocábulos estrangeiros, por estes se enquadrarem no contexto do que se quer transmitir ao leitor, dando maior realce e significado à escrita, por outro lado é inadmissível verem-se e ouvirem-se políticos e jornalistas, todos eles intelectuais auto-convencidos, Mários Crespos incluídos, a fazerem figuras tristes com pedantismos verbais e nem eles imaginam o quanto. Já para não falar nos preciosismos orais extemporâneos, que incluem sempre muitos estrangeirismos, em que os locutores/as e quase todos os políticos são férteis. Por exemplo, a Judite de Sousa tanto nas expressões como na linguagem, é escusadamente rebuscada e pretensiosa; o Mário Crespo, este então nem se fala, é reincidente desde tempos imemoriais, extravasa nos termos ingleses e nas expressões faciais (estranhíssimas) de grande pensador, utiliza uma oralidade esteriotipada e artificialmente erudita e, está claro, sofre da mesma descabelada "síndrome dos estrangeirismos adquiridos" de todos os seus pares (vi parte de uma entrevista que ele fez a Sir David Branson, porque não aprende ele a correcta pronúncia inglesa, aquela que ouviu a este senhor, por exemplo, deixando-se de vaidosices irritantes e exibições linguísticas que deixam muito a desejar (a sua pronúncia do inglês da África do Sul, onde aprendeu esta língua e que ele julga ser de excelência, não é, trata-se de uma pronúncia incorrecta que ele, desconhecendo o facto, verbaliza com prosápia e imodéstia)? Não lhe faria nada mal passar uns anitos em Inglaterra; a Clara de Sousa continua impante de vaidade com a pretensão de ser a locutora mais sexy e mais competente do mundo, pois fique sabendo que não é uma coisa nem outra, os telespectadores querem ouvir as notícias comunicadas por locutoras discretas e credíveis, não por vampes, agora pinta as sobrancelhas à 'joker' e continua a fazer 'boquinhas à Brigitte Bardot' e voz de intelectual que revoltam o estômago do mais estoico; o João Fereira tem uma dicção horrível; o Jorge Gabriel é muito fraco apresentador, o seu colega Herder Reis é muito melhor apresentador e mais discreto, competente e agradável... e mais instruído, pena é que o coloquem sempre no exterior e não no estúdio; a colega Sónia Araújo é muito fraquinha como apresentadora (mostra os dentes, forçadamente, demais) já melhorou desde o seu início, mas continua fraca; o Pedro Coelho fala com voz de quem vai começar a chorar; o João Ferreira fala aos puxões e de modo sincopado e tem má dicção; o Rodrigues dos Santos é uma completa desgraça como locutor desde sempre e também permanece de pedra e cal na RTP em virtude da fortíssima cunha que o respalda, lê mal os textos e come metade das palavras, faz umas caretas esquisitas e trejeitos irritantes ao máximo e ainda tem o desplante de piscar o olho aos telespectadores... sorrindo com ar cúmplice! Mas ele conhece-os d'algum lado para ter semelhante descaramento?! E depois, vaidoso até ao vómito, quando acaba o telejornal ainda se deleita, enquanto souber que o público o está a ver no écran, em observar-se cheio de orgulho e convencidíssimo que é o melhor locutor de televisão, não só de Portugal mas do mundo (o Rodrigo Carvalho sofre da mesma doença há décadas) e embevecido que está pela sua própria pessoa, fica a olhar lânguidamente a sua linda imagem no monitor até esta desaparecer no éter... Deprimente! Do Malato nem é bom falar (e do palhaço do Goucha idem aspas, está cada vez mais cretino e insuportável, continuando inacreditàvelmente a rir-se às gargalhadas das completas parvoíces que debita e do espalhafato que produz e com a TVI a permitir este espectáculo miserável, coitada da pobre colega...) já nem falo porque mal o detecto - a ele e ao Goucha - mudo logo de canal, o seu aspecto físico, o modo manteigoso e peganhento como fala (ele não tem culpa, quem a tem é quem o pôs no lugar que ocupa) a pobreza de vocabulário, etc., este 'apresentador' por mais incompetente que seja, tal como todos os outros seus iguais, tem emprego assegurado para a vida, é protegido por um sistema pôdre e corrupto que deles necessita. Aquela rapariga da TVI, Susana Bento, que divide a leitura dos telejornais com um colega relativamente sóbrio, Pedro Carvalhas, tem um sorriso demasiado forçado e faz uma voz propositadamente anasalada (para além de parecer falar com a boca cheia de rebuçados) para dar ares de muito competente (como a Teresa Pina insuportàvelmente também o fazia há uns tempos e embora tenha melhorado ligeiramente o tom de voz, ainda peca pelo mesmo defeito) e que tal se evitasse 'aquela' voz irritantemente anasalada (a fazer lembrar uma Mª João qualquer coisa, irmã da A. Lencastre, que tinha uma voz pavorosa, parecia saída do fundo dum poço e a ler as notícias só fazia trejeitos e boquinhas à menina pequenina... melhorou muito ligeiramente) e o sorriso forçadamente simpático? Veria que sairía enormemente beneficiada, porém persistindo nos erros só sai prejudicada; vá lá que já puseram a milhas a outra miúda, uma Sofia Vinhas, que parecia ter saído da escolinha directamente para a leitura dos telejornais; a Fátima Lopes, outra sopeira que nunca mais arreda pé da televisão (ai, adoradas cunhas), tem um vocabulário paupérrimo, repetitivo, piroso e cansantivo, os programas dela - tal como todos os seus anteriores - são piores do que maus, repelindo qualquer espectador mìnimamente interessado e, para juntar o inútil ao desagradável, ainda por cima veste-se e penteia-se pèssimamente, mais parece uma mulher a dias, uma hortaliceira ou peixeira nas vestes e o cabelo, sempre sujíssimo, faz lembrar o das ciganas d'antanho sem desprimor para estas. A Júlia Pinheiro, que até era boa apresentadora n'alguns programas que teve, desde que aterrou na TVI é um completo horror, o formato dos programas, o seu conteúdo, os assuntos tratados, os convidados, as ofertas de prémios em dinheiro que ela própria anuncia, as palmas que ela pede à audiência consecutivamente, um pavor... e o seu aspecto físico então nem se fala, tem um mau gosto inacreditável na roupa que escolhe (pouco melhor é do que a F. Lopes) e quanto ao cabelo, bem, além de ter ar de pouco limpo, nem sequer lhe toca desde que sai da cama até que se apresenta perante os telespectadores... lindo para uma apresentadora de televisão, não haja dúvidas! Tudo isto, mais os estrageirismos, a má locução de quase todas elas e d'alguns deles, os diálogos pela rama, os temas quase todos de carregar pela boca, as roupas e penteados horríveis, etc., torna quase impossível assistirmos aos telejornais e aos programas de entretenimento. O seu nível é de tal modo baixo que já não se conseguem suportar por muito boa vontade que se tenha.
Outro completo terror é 'o retrato emoldurado' que nos chega a casa, da cintura para cima, diga-se, das locutoras dos telejornais, aquelas raparigas não têm a mínima noção de estética e ainda menos das conveniências. Bem, todas elas parece que se arranjam, que se produzem como agora se diz, para irem à discoteca, a uma grande festarola ou ao casino, usam decotes quase até ao umbigo, cabelos até à cintura e seja curto ou comprido, a norma é este tapar-lhes os olhos e entrar-lhes pela boca enquanto falam e, a somar a esta agressão visual, ainda pespegam carradas de tinta na cara e toneladas de bijuteria ao pescoço e nas orelhas como se se tivessem
mascarado para integrar um corso de carnaval como atracção principal... Mas porque será que as locutoras portuguesas não adquirem uma postura discreta e séria ante as câmaras, porque não seguem, na locução e nos trajes, as locutoras inglesas? Porque será que ouvir e ver estas locutoras, a sua postura, a maneira equilibrada de se vestirem e maquilharem, o modo como dizem/apresentam as notícias, é um prazer e pelo contrário torna-se um sacrifício quase insuperável ver e ouvir as nossas? O tom de voz neutro, a dicção perfeita, articulação e pausas correctas entre frases, a fonética impecável, ausência de trejeitos esquisitos, sem decotes ou, se os usam, mínimos, quase nenhuma maquilhagem, pouca ou nenhuma jóia, penteados sóbrios adequados à função que desempenham, elas, as inglesas, são o exemplo acabado de como deve apresentar-se e falar para o público uma locutora de televisão. Haverá talvez excepções, mas eu desconheço-as. Numa palavra, as locutoras inglesas denotam competência e respiram credibilidade.
E o que é que achariam as nossas, se os locutores seus colegas aparecessem sem casaco, com os botões da camisa desabotoados até à cintura, com as sobracelhas pintadas, rímel nas pestanas, unhas pintadas de vermelho, cabelo até meio das costas, etc., elas gostariam porventura de os ter ao lado a ler as notícias? E acham que os telespectadores levariam a sério o que eles estivessem a querer transmitir-lhes? Percam 5 minutos a pensar nisto. Na figura que fazem e na imagem que projectam.
Elas que se 'produzam' como quiserem, usem o cabelo até aos pés e a tapar-lhes o rosto, ponham montes de tinta na cara e dispam-se totalmente se lhes aprouver, mas façam-no fora do serviço e nunca para apresentarem telejornais. Por respeito por quem as vê e ouve, apresentem-se e decentemente se quiserem ter um mínimo de credibilidade. Tentem imitar as locutoras da BBC, vão até lá estagiar uns tempos, aprendam a falar correctamente e sem estrangeirismos, não façam trejeitos e expressões esquisitas, não empolem a voz nem a modifiquem para darem ares de competência forçada, vão ver que se o fizerem irão longe na profissão. Nós, que temos que vos ver e ouvir, agradecemos penhorados.
E finalmente, para cúmulo na adopção de estrangeirismos mais do que duvidosos, porque seguem uma norma, sinónimo paradigmático do novo-riquismo e da ultra modernidade que nos submergem, temo-los em crescendo nos nomes de empresas, escolas, agências, movimentos, associações, organismos de beneficência, lojas e lojecas de todo o género, centros comerciais (nestes a pirosice já vem de longe, mas há honrosas excepções) e até os polícias já entrecortam cada frase com estrangeirismos, agora só faltam os partidos políticos adotarem-nos como designação de origem e logo a seguir, quem sabe, virá o nome do país... Em siglas ridículas e despropositadas e na amputação de substantivos colectivos ou vocábulos tetrassilábicos, por exemplo, como bons carneiros que nos tornámos dos norte-americanos e com a excepção desse próprio país, já nenhum outro nos ultrapassa. É o caso da comunicação social ter passado a ser designada em Portugal, não pela expressão anglo-saxónica completa 'mass-media', o que já de si seria despropositado e ridículo ao máximo, mas simplesmente por 'media' macaqueando os norte-americanos que, por uma questão de comodismo verbal e inglês incorrecto falado e escrito, típico neles, amputam vocábulos, termos verbais, substantivos, adjectivos etc., por dá cá aquela palha, abastardando o inglês, particularmente o falado em Inglaterra. Ingleses que diga-se de passagem já vão adulterando a sua própria língua com a adopção de americanices, salvo as pessoas mais instruídas que a prezam e bem. Mas toda esta aculturação, esta americanização, tem uma razão de ser, para além da importação (obrigatória) que andamos a fazer há dezenas d'anos de tudo quanto há de pior que os americanos possuem e produzem, incluíndo péssimos hábitos linguísticos. Tomemos como exemplo a palavra 'media', ela ilustra à maravilha a necessidade da substituição subreptícia de vocábulos e expressões portuguesas por inglesas, neste caso específico trata-se de evitar que os portugueses possam associar por semelhança lexical, ainda que inconscientemente, algo que o sistema tenta disfarçar por todos os meios, que é o facto da nossa imprensa falada e escrita estar sob o seu domínio quase por completo. Em Portugal as expressões "comunicação social" e "comunicação socialista" assemelham-se ortogràficamente e não sendo sinónimas, paradoxalmente significam a mesma coisa porque as pessoas associam-nas por igual ao sistema, dada a conotação corrupta verdadeira que enforma os organismos que as representam. Porém, hipòcritamente, o sistema tenta esconder com estrangeirismos rebuscados aquilo que é por demais evidente e com malabarismos linguísticos tudo fazem para disfarçar o indisfarçável. Daí o uso sistemático e diário da expressão inglesa por parte de quem tem acesso ao público, com a ajuda servil, solícita e preciosa da imprensa falada e escrita e da politicagem de ocasião. Assim temos que, sendo etimològicamente expressões diferentes, comunicação social e comunicação socialista polìticamente significam uma e a mesma coisa, de facto, porque uma já não se distingue da outra. A adopção do vocábulo inglês 'media' (e de muitos outros pretensamente na moda, mas de extracção recente até nos países d'origem, como carjacking, homejacking, bullying, tunning, shopping, outsourcing, leasing, agora nasceu mais outra, newsletter em lugar de boletim, etc.,etc., seguindo de resto a onda - ou ordem? - mundial que também os brasileiros, os franceses, os espanhóis e os italianos copiam, estes dois povos menos) é de uso obrigatório e de matraqueação permanente e é isto indispensável para, uma vez entranhado no sub-consciente das massas, ele passar a ser de uso corrente e a fazer parte da língua portuguesa e para gáudio do sistema, juntando o útil ao necessário, abastarda-se a língua um pouco mais e simultâneamente, pela habituação do uso e lento esquecimento dos termos portugueses, evitam-se as conotações inconvenientes e óbvias que a expressão 'comunicação social(ista)' comporta. As palavras imprensa e comunicação social quase desapareceram do nosso vocabulário e no discurso escrito e falado são pràticamente inexistentes, mas em compensação foi-nos impingido o inadmissível 'media', não esquecendo os outros estrangeirismos igualmente inaceitáveis que citei acima. E se não existem mais... já vamos com muita sorte. Mas esta padronização de usos, tradições e costumes alheios à cultura dos povos, a adopção subtil de uma língua mundial num futuro não muito longínquo, a inglesa evidentemente, introduzindo-lhes estrangeirismos cada vez em maior número e frequência (no nosso país vai para quatro décadas, n'alguns outros há já muito mais tempo) tem origem, motivação e finalidade. Nós sabemos perfeitamente quais são.
Maria

 
At 8:36 da tarde, Blogger Antonio Filhó said...

PORRa amigo,você faz uma limpeza geral,não há jornalista que se aproveite.Estou de acordo com algumas descricções(à antiga)e fartei-me de rir com outras.
Continue porque tem espírito.

 

Enviar um comentário

<< Home