quinta-feira, agosto 21, 2008

Memória do comunismo

No Público de hoje, dois valiosos trabalhos jornalísticos trazem-nos a memória do que foi o universo demencial do comunismo.
O primeiro recorda a invasão da Checoslováquia, e o segundo, a partir desse acontecimento, contém um depoimento mais alargado de Cândida Ventura (actualmente com 90 anos, ela viu tudo e viveu tudo).
Os dois juntos dão-nos o quadro negro em que se movimentava a seita sinistra. Através de Cândida, que foi a primeira mulher no Comité Central, vemos a vida do PCP, aqui e lá fora, os seus protagonistas em retrato verdadeiro e ao vivo (atente-se em Cunhal, o "fulanão" como lhe chamou Flausino Torres, outro ex). Evoca-se Dubcek, Artur London, a esquizofrenia estalinista.
O comunismo não era na verdade tão mau como o pintam vulgarmente os anti-comunistas: era pior. E por vezes nada melhor que os ex-comunistas para nos virem recordar como era.
Infelizmente a esquizofrenia continua bem viva. Em recente publicação, "Os Anos de Salazar", que tem vindo a ser distribuída com o "Sábado" e com o "Correio da Manhã" tenho lido amostras espantosas dos extremos a que pode chegar a "historiografia" do sovietismo restante. No número mais recente um "historiador" relembra os feitos da ARA (Acção Revolucionária Armada) para tecer o panegírico do "braço armado" do PCP, e depois de enunciar as "acções armadas" praticadas oficialmente nos dois anos de actuação oficial da organização (é tudo muito oficial, podia ser publicado no Ávante, ou reproduzir simplesmente os comunicados do grupo, por ex. nunca surge referência alguma a vítimas dos atentados, só são atingidos navios, aviões, estruturas militares... ) conclui triunfalmente proclamando que tudo foi só "heroísmo e coragem". Não deve ter havido ninguém, entre os responsáveis da publicação, com sentido crítico bastante para lembrar que aquilo se chama normalmente terrorismo, e que desses actos resultaram vítimas, gente comum, daquela que o PCP gosta de dizer que defende. Não faltam outros exemplos de esquizofrenia (fuga à realidade, ocultação da mesma), como o último texto do recentemente falecido Martins Rodrigues em que este surgiu a justificar dentro da mais rigorosa ortodoxia estalinista o infame crime de homicídio pelo qual foi justamente condenado (a pena que só cumpriu parcialmente, pois entretanto surgiu o 25 de Abril e logo tudo lhe foi perdoado). Martins Rodrigues juntava a esquizofrenia à paranóia, e era um assassino fanático: nem isso evitou que os editores destes designados trabalhos históricos lhe concedessem a palavra para o discurso auto-justificativo (se a intenção era evocar o "crime de Belas", compreende-se que só se ouça o assassino?).