sexta-feira, agosto 15, 2008

Cheleiros

Passar por Cheleiros faz-me sempre pensar no "Memorial do Convento" e no José Saramago. Aquele percurso foi sempre o caminho a unir a região de Sintra, a partir de Galamares, à região de Mafra, pela Igreja Nova. Liga, obviamente, Pero Pinheiro ao Convento de Mafra. O famoso Nobel lembrou-se disso, e ficou impressionado com a visão das toneladas de pedra, e dos pedreiros, dos carreiros, das carroças e dos bois, a treparem aquela ladeira íngreme para levar até ao sonho de D. João V o material que era preciso. Os leitores estarão recordados.
Mas o local guarda, ainda hoje, mais poder evocativo e sugestivo do que o romance. Atravessa-se a aldeia marchando por estrada e ponte novas, que suavizam as inclinações naturais, e observa-se do lado direito a silhueta frágil da velha ponte por onde tudo antes tinha que ultrapassar o riozinho, que ali, por pitoresco acidente geográfico, se erguia como obstáculo intransponível. Sente-se um primeiro sobressalto, ao iniciar a subida, a imaginar o esforço titânico de homens e animais para conseguir levar por ali acima os blocos que iriam dar forma ao Convento. Quantos milhares de toneladas, quantos blocos gigantescos, e a ladeira infindável, a exigir o máximo dos tantos cavalos que puxam agora as nossas máquinas automóveis... A subir, ao calor abrasador do Verão, vem-me à ideia a imagem do Inverno. Como seria, com a chuva e o lamaçal, a tarefa das inumeráveis juntas de bois ao serviço de Sua Majestade que tinham que vencer a encosta, empinada e sem fim?
Que epopeia, amigos, que cena épica, que filme!