segunda-feira, janeiro 07, 2008

Luiz Pacheco

Se o PCP alguma vez tivesse implantado em Portugal o seu regime, Luiz Pacheco teria acabado os seus dias numa qualquer prisão ou centro de internamento e reeducação.
Era um elemento anti-social, afectado por todos os vícios da sociedade burguesa e capitalista, intoleravelmente individualista, provocatoriamente devasso e dissoluto, e um caso notório de parasitismo. Não viveu na URSS, e o PCP de cá nunca teve o seu pequeno goulag. Safou-se, por isso, o Pacheco. Apesar disso, passou a maior parte da sua vida convencido de que era um compagnon de route do PCP, sem se aperceber de como era precário o seu estatuto e do que seria dele se também pudessem morder os que rangiam os dentes à menção do seu nome.
O que fica dele é sobretudo a crítica: demolidora, a sua denúncia da rústica maquineta de fabricar glórias montada entre nós desde os anos afastados da implantação dos neo-realejos, do artificialismo e falsidade da história da literatura portuguesa de algumas décadas do século XX, dominada pelas conveniências de seita e de capelinha e os respectivos sindicatos organizados.
Por mim, não escondo que o gozo maior da leitura de Pacheco era a sua impiedosa dissecação dos Urbanos, dos Namoras, e de tutti quanti...
Que o homem tinha talento, tinha; mas perdeu-o, deixou-o por aí numas tiradas fulgurantes, artilharia certeira com que há-de contar quem se propuser trabalhar sobre a literatura portuguesa da sua época.
Mas obra de criação, coisa que fique, não parece que deixe. Pode não ser simpático falar dele assim na hora da sua morte, mas há génios que não vieram para construir.
Sobre ele, já se escreveu aqui e aqui.