domingo, janeiro 06, 2008

África

O título da notícia de hoje da CNN sobre o Quénia é "Descent into tribalism". Não custa encontrar outros títulos iguais ou semelhantes na grande imprensa internacional, quando se trata de África. Pior ainda é verificar que o que se vai passando desaparece dos noticiários. Um continente parece afundar-se, e o resto do mundo não sabe sequer como falar da maldição. Se o Quénia, essa jóia da coroa, cai na balbúrdia sangrenta dos seus vizinhos, se no Norte de África já não pode passar uma caravana automóvel rumo ao Senegal, o que resta ainda? A República Sul-Africana? Por quanto tempo, quando se fala cada vez mais na sua zimbabweização?
Quando se olha de Norte a Sul e de Leste a Oeste do continente, vê-se que não é possível sem cair no ridículo apontar a causa das coisas na colonização, seja ela a portuguesa, a belga, a britânica ou a francesa, ou a alemã. A África africaniza-se, para onde quer que se olhe. E o verbo africanizar não significa nada de bom.
Haverá coragem para fazer o processo histórico da descolonização? Haverá coragem para fazer o balanço, e publicá-lo?
Para quem amou África, e sonhou alto com os caminhos que a história venceu, nada apagará a amargura de ter sido vencido e ter tido razão (ao menos que o tempo tivesse demonstrado que os prognósticos estavam errados - feliz África!). Ficará para sempre o travo amargo de uma formidável gesta histórica que foi interrompida e abortada.
Para África, porém, a única via da esperança é começar a dizer a verdade. Por mais que custe aos que fizeram a história tal como ela foi e é, e carregam a pesada responsabilidade de ela ser assim.
Lembro-me sempre do desabafo de Jacques Soustelle na sua "Carta Aberta às Vítimas da Descolonização": pudessem os apaniguados da descolonização orgulhar-se dela como nós nos orgulhamos da colonização.

3 Comments:

At 3:23 da tarde, Blogger Francisco Múrias said...

A unica coisa que a Uniao Europeia pode ter trazido de bom e a possibilidade da Europa ter uma acçao concertada mas descentralizada na salvaçao de Africa.

Um novo tratado de Berlim e necessario.

 
At 7:11 da tarde, Anonymous Anónimo said...

O COMPLEXO DE CULPA DOS COLONIZADORES
Barradas de Oliveira – Quando os cravos murcham.

Foram os interesses que levaram as nações europeias, no século passado, ao assalto da África, assim como são os interesses que movem hoje no mesmo sentido as actuais superpotências: Rússia, China e Estados Unidos da América.
Mas não há duvida de que, ao lado do aproveitamento económico das terras ocupadas, os colonialistas fizeram muitos beneficios. Se o imperialismo europeu e norte-americano teve ás vezes aspectos atrozmente negativos, no caso especial da África realizaram os colonialistas uma obra altamente meritória. Negá-la, esquece-la, não a apresentar como contrapartida aos idealismos independentistas do nosso tempo e ir atrás do logro, chorando lágrimas de arrependimento, é sobretudo injusto.
Há trinta anos, um belga, Fred van der Linden, apontava contra os cantadores ceguinhos, acompanhados das falácias de Rousseau, a obra realizada pelos coloniadores em beneficio de povos sujeitos ainda a práticas bárbaras, a sacrificios humanos e à autoridade de chefes despóticos, injustos e cruéis.
A esses povos o colonizador levou antes de mais nada a paz e a segurança.
Foram os colonizadores quem pôs fim ás guerras tribais e ao tráfico da escravatura – que fora durante séculos negócio corrente entre os chefes nativos e os negreiros e um direito normal do guerreiro vitorioso. Levaram aos povos autóctones o conhecimento de novas culturas, de sentido universalista, que os alçavam à consciência de membros da grande familia humana e de filhos do mesmo Deus. Organizaram o estudo e a luta contra as doenças, abriram hospitais, sanatórios, lazaretos, consultórios, laboratórios de análises, ordenaram o ensino da medicina e enfermagem, multiplicaram as campanhas de desparasitação, quininização, rastreio da tuberculose, combate aos agentes patogénicos. É de notar, no combate à mosca tzé-tzé, causa da doença do sono, a actividade dos médicos portugueses, que praticamente erradicaram esta doença dos nossos territórios. Generalizaram o ensino primário, abriram escolas técnicas e secundárias, universidades e institutos superiores de investigação. Os nossos institutos de investigação veterinária e agricola em Angola, por exemplo, eram organismos de categoria intenacional.
O colonialismo fez leis de trabalho e de previdência social, estudou os melhores métodos de cultura das terras e da criação de gado, aproveitou fontes de energia, instalou industrias, construiu portos maritimos, rasgou estradas, caminhos de ferro e pistas de aeroportos, edificou cidades, estabeleceu ligações terrestres, maritimas e aéreas, com todo o mundo.
Não têm as nações colonizadoras em Àfrica, dum modo geral, razões para se sentirem culpadas do que por lá fizeram. Porque, a par de erros cometidos – e alguns desmedidamente avolumados pelos facciosismos da propaganda – há toda uma obra de trabalho, de progresso, de promoção social, que os africanos mais tarde hão-de lembrar reconhecidos e que para os europeus será sempre motivo de orgulho e não de complexo de culpa, injusto e absurdo.
Pode dizer-se que até nalguns erros a obra dos colonizadores ficou. Tal o caso dos limites das novas nações africanas. Foram talhadas com fronteiras artificiais, no arbitrio dos acordos entre as potências europeias. Muitas separaram grupos étnicos que ficaram divididos por dois paises novos, parte num, parte noutro. Pois apesar disso é de supor que os novos estados fiquem com as fronteiras convencionadas pelos colonizadores e dentro delas desenvolvam, progridam e façam a sua História.

Conta-se que, depois do 25 de Abril, um diplomata do Leste europeu visitou Lourenço Marques. Acompanhou-o ali um dos dirigentes da FRELIMO apontou indignado para as palhotas:

-Isto é uma herança do colonialismo!
O diplomata do Leste sorriu e comentou:
-Isto aqui é África. A herança do colonialismo está ali.
E apontava para os altos prédios que se erguiam imponentes a umas centenas de metros...

 
At 11:08 da tarde, Anonymous Anónimo said...

O texto do Manuel é um comentário RACISTA!!!

 

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