sexta-feira, janeiro 04, 2008

Cenas tristes

Nada na novela BCP pode já surpreender (embora desconfie que ainda iremos ter muitas revelações chocantes, à medida das conveniências do jogo e dos jogadores). Deve haver ainda bastantes cartas escondidas, e bombas com retardador.
As informações veiculadas pelo Público de hoje traduzem-se resumidamente em que há pelo menos um ano os que mandam na CGD andam a usar o dinheiro da Caixa para adiantar a uns tantos do BCP a fim destes comprarem fatias cada vez maiores do capital deste, sendo este grupo de accionistas assim reforçado com centenas e centenas de milhões de euros da Caixa que agora tenta assegurar o poder no BCP precisamente àqueles que na administração da Caixa trataram de lhes fornecer os meios para poderem executar a manobra.
Que comentários se podem fazer? O melhor é não dizer nada, e assumir que o dinheiro é deles, e pronto. Não há nada a fazer. Na Caixa ou no BCP são eles que mandam e aquilo nunca foi tão privado como é agora. É tudo deles.
Quanto ao que se tem falado sobre Opus e maçonaria, maçonaria e Opus, também me parece preferível não dizer nada. Do que está escondido quem fala não sabe e quem sabe não fala. E o que está à vista só não vê quem não quer, ou quem não pode. Eu desconfio que ainda hei-de ver de avental quem já vi noutros preparos. Na escolha das fardas a eficácia é que conta.

1 Comments:

At 5:18 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Tal e qual. Se a falta de vergonha somada às escandaleiras mais os abusos e as altíssimas corrupções, que grassam por todo o lado, pagassem imposto, por pequeno que fosse, tínhamos mais dinheiro no Banco de Portugal do que o Fort Knox tem em barras d'ouro. O pior e o mais trágico disto tudo e o melhor para eles, claro... é que 'enquanto dura, vida doçura'. Este era um dito comum de há décadas, referindo-se a alguns negócios menos claros, mas antigamente só havia corrupçõezinhas, não altas corrupções e elas eram punidas logo que detectadas e que, coitadas delas, comparadas com as de hoje eram simples brincadeiras de crianças... Agora, porém, para gente do calibre dos ladrões legalizados que para aí andam, na política e fora dela, um dito popular destes é muito pouco. Uns versozinhos 'à maneira' como agora se diz, com epitáfio à mistura, é o mais apropriado para estes novos salteadores, uma espécie de cartilha aplicável a todos e a cada um. Neles podem-se rever ao espelho, sobretudo o ladrão-mor da Coutada que ainda se vai chamando Portugal.

"Fixa bem os nossos lemas/ estarás protegido, não temas/ enquanto a vida te durar/ não pares nunca de roubar/ rouba sempre mas, lembra-te, aos milhões/ porque só assim terás as respectivas compensações// receberás prebendas e honrarias/ comendas e mordomias/ serás recebido por reis e presidentes/ e por outras importantes gentes// lembra-te que um grande ladrão/ é sempre recebido com pompa e emoção/(se assassinares alguém de permeio/ não te preocupes, safamos-te, há sempre um meio)// um grande ladrão tem sempre o mundo na palma da sua mão/ se roubares muito e fores eficiente/ lembra-te que até um lugar reservado terás no Panteão/ e lá reposarás entre um rei e um presidente//lembra-te que os maiores roubos no país de que há memória/ foram obra tua e são a tua coroa de glória/ por todos os motivos e mais um o teu nome passará à história// a uma rua e a uma praça será dada a tua graça/ e mais tarde, porque não, com o teu nome será baptizado um avião/ é verdade que foste um grandessíssimo ladrão/ mas que diabo rapaz, de grandes feitos foste tu capaz// por isso e muito mais, na tua pedra tumular a instalar no Panteão/ mandarei gravar a letras garrafais a seguinte inscrição/ "aqui jaz um companheirão/ foi pervertido, corruptor/ assassino e traidor/ sim, mas foi também o nosso maior herói e o mais eficiente ladrão"/ e mais não digo para que não te zangues comigo"// devo no entanto assinalar/ que depois de teres delapidado os cofres da Nação/ e de teres praticado algumas malfeitorias n'outras companhias/ têm-te chamado de tudo com razão/ d'algum modo tudo isso foi por ti corroborado/ neste particular honra te seja feita meu lapão// do que nunca foste acusado/ (e esta sendo a maior ironia é também a tua mais valia)/ foi de grandessíssimo ladrão/ e no entanto foi um trabalho de sapa exercido com paixão// esta foi afinal de contas a tua verdadeira profissão/ foste-o a tempo inteiro e mostraste sempre excelente vocação/ e nunca recebeste a mínima reprovação/ nem dos teus pares nem sequer da população// significa que foste um herói ou não?/ claro que sim e mais, aquilo que tanto havias ambicionado/ acabaste por ver concretizado/ não foste em vida cognominado de 'ladrão'// descansa, não o serás também por nenhum vindouro/ (tu que te locupletaste com toneladas d'ouro)/ perguntar-me-ás, como serei então lembrado meu irmão?/ pensa um pouco, tu próprio já deixaste tudo muito bem congeminado/ não tenhas a mínima preocupação, está tudo assegurado// deixo-te agora as minhas últimas palavras com carinho e redobrada paixão/ como mentor-mor que foste, serás sempre recordado/ e como um grande ladrão duplamente idolatrado// és e serás o orgulho de todos os teus irmãos/ e como sucedeu antes, com outros grandes ladrões/ haverá igualmente um lugar para ti nos nossos comovidos corações //


//Por ironia do destino e da história/ a última gargalhada vai pertencer a este refinado malandrão/ ele que foi o mais completo patifão de que há memória/ será recordado como um herói-finório/ e não como aquilo que sempre foi e será/ um rematadíssimo ladrão//

'Enquanto dura, vida doçura', dizia o povo antigamente, como acima escrevi. A vida destes ladrões legalizados, mais do que doce é regalada, fazem todas as trafulhices e roubalheiras na cara do Povo e este não só não se incomoda com o facto, como não mexe uma palha para travar o desaforo. E ainda eles têm a supina lata de falar mal da 'longa noite' e da pesada herança. Quer dizer, tinham. Desde Novembro de 2002 que se calaram que nem ratos, com a história do ditador, da ditadura, da longa noite e da pesada herança. Pudera! Um trapo encharcado de porcaria nos focinhos, era o que todos eles precisavam. Mais longa e tenebrosa noite, melhor, ditadura do esta, este desesperante lusco-fusco em que vivemos, a fingir de democracia radiosa, é difícil imaginar-se excepto no quarto mundo. Pobre País este, que tão indignos filhos concebeu.

Maria

 

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