segunda-feira, setembro 17, 2007

Sobre prisões preventivas

O mais vulgar dos fundamentos para a aplicação da prisão preventiva é o receio de continuação da actividade criminosa do arguido. Muito mais do que os outros legalmente previstos, como o perigo de fuga ou de alarme social no caso de libertação do detido.
Por outras palavras: determina-se que alguém fique preso, apesar de ainda não ter sido condenado, porque está fortemente indiciado que ele praticou um crime ou crimes, e sobretudo porque se prevê que ele em liberdade vá praticar outros - o que se pretende evitar com a medida.
Naturalmente que esta privação da liberdade tem como pressupostos alguns que se relacionam com os factos praticados (a sua gravidade, a segurança da prova dos mesmos, a alta probabilidade da condenação) mas dada a sua finalidade preventiva relaciona-se mais ainda com um prognóstico sobre o comportamento futuro do arguido caso fique em liberdade. Se o seu passado foi praticar factos semelhantes, se o seu presente é viver disso, pode razoavelmente prever-se que é provável a continuidade.
Nesta ordem de ideias percebe-se que a prisão preventiva pode ter o seu campo privilegiado de aplicação, e a sua justificação, sobretudo em casos de repetição de condutas, mais até do que em casos de crimes de grande gravidade mas que pela sua natureza ou pela personalidade do arguido logo indiciam tratar-se de comportamentos isolados, em que não se vislumbra probabilidade de repetição.
Estou a pensar agora naquilo que aflige o cidadão vulgar, e que gera o sentimento geral de insegurança, que é a multiplicação de crimes contra o património. Por cada homicídio existem, como é de experiência, muitos milhares de furtos; e se alguns poucos desses furtos, e os cada vez mais vulgares roubos, apresentam por si sós características de grande gravidade, não deixa de ser regra que a generalidade deles cabe no que é habitual considerar bagatelas penais.
Todavia, é com essa praga que se defronta o tal cidadão comum, afectado na sua casa e na sua rua, no seu carro e na sua carteira, de um modo que o faz pensar que em nenhuma hora e em nenhum sítio pode estar tranquilo. É bem verdade que ao nível social a que circulam os legisladores existe uma imunização prática em relação a tal situação, a qual aí não se sente - do que resulta a incompreensão e a menorização do facto, frequentemente descrito nesse meio como meramente subjectivo.
Todavia, o fenómeno existe e é bem real, e não se resolverá apenas com campanhas na comunicação social.
Noutras paragens esta problemática esteve na origem de medidas legislativas controversas, como a muito falada regra americana que estabeleceu que à terceira era de vez... criminoso que apareça pela terceira vez, vai dentro.
Por cá, legislou-se agora no sentido de impedir totalmente a aplicação da medida de prisão preventiva sempre que não se indicie a prática de crime punível com prisão superior a cinco anos. Porém, como resulta da lei penal substantiva e se pode constatar pela experiência, certamente mais de noventa por cento dos crimes contra o património (furtos, danos, burlas, abusos de confiança) não ultrapassam esse patamar. Sobretudo os tais, aqueles que todos os dias se repetem, porque os agentes vivem exclusivamente disso, e incomodam uma comunidade inteira, em que toda a gente sabe e ninguém pode fazer nada.
Vão repetir-se as situações em que uma e outra vez o criminoso é apanhado pelas entidades policiais, é levado ao juiz para interrogatório, sai em liberdade e volta no dia seguinte por factos idênticos. A população reclama contra as polícias e indigna-se com o juiz. Os jornais farão parangonas com o escândalo. O juiz por seu lado, no momento de decidir quanto à medida de coacção adequada, sabe perfeitamente que o juízo de prognose a fazer quanto ao comportamento futuro do arguido é simples e claro: a probabilidade de ele sair e voltar a praticar factos idênticos apresenta-se mais como certeza do que como probabilidade. Mas a lei não permite a aplicação de prisão preventiva. Adeus e até à próxima.
Uma e outra e outra vez, cansa. Desmoralizadas ficam as populações, os polícias, e os juízes.

4 Comments:

At 8:42 da tarde, Anonymous Anónimo said...

"... Desmoralizadas ficam as populações, os polícias e os juízes". Pois ficam e com toda a razão. E esperemos que essa desmoralização provoque uma tal revolta na população, nos polícias e nos juízes (já para não falar na desmoralização dos professores, médicos e enfermeiros) que o Povo inteiro se levante em armas ou sem elas e diga BASTA! E corra daqui para fora com este bando de parasitas, perfeitos facínoras, que mais não têm feito do que troçar descaradamente deste bom Povo que, para seu gáudio e luxúria lhes colocou ingènuamente o poder nas mãos e, em via disso, a tudo eles desavergonhadamente se têm permitido. O crime no nosso País, até hoje, tem compensado e de que maneira, senão perguntem aos políticos que têm passado pelo poder, contràriamente ao que diz a justiça, os bons costumes e a voz corrente. E cada vez compensa mais, por tudo quanto se vai vendo e pelo mais que se não vê. Nós vivemos pràticamente à lei da bala e do assalto, estilo américa-anos 20/30 - aqui há uns 40 anos, quando se ouvia esta expressão para caracterizar a sociedade norte-americana, então completamente desfazada da realidade portuguesa, pensava-se que aquilo "lá pelas américas" era um outro mundo tão distante e tão estranho que era impensável algum dia tal inferno poder existir em Portugal, garantia-se a pés juntos que tal estilo de vida (ou de morte) nunca cá chegaria, estava-se tão distante desse tipo de sociedade e modo de vida, como estávamos da Lua, por assim dizer - com os poderes estabelecidos a apoiarem hipócrita e descaradamente a corrupção, criminalidade, violência, raptos, pedofilia, etc., só nos falta a legalização de posse d'arma (como nos E.U., tudo igualzinho tal e qual o 'pai da democracia' predisse e decretou, sem tirar nem pôr) a todos os cidadãos que assim o desejem e na verdade já faltou mais, estamos quase lá, os crimes, a corrupção, a violência de todo o género, os assaltos, a pedofilia, o tráfico d'orgãos, os abortos legalizados (e incentivados), as gravidezes precoces (igualmente incentivadas), etc., são os mesmos, só falta de facto, para acabarmos em beleza, a licença e porte d'arma extensível a toda a população, mas lá chegaremos disso não tenhamos a menor dúvida e até talvez seja uma boa ideia, a única maneira que teremos d'acabar com os vermes da política, quem sabe? Os criminosos são detidos (e no meio destes e não tão poucas vezes quanto isso, há agentes de segurança(!!!) que são traficantes d'armas e droga e concomitantemente seguranças de discotecas onde exercem livremente o seu negócio paralelo), julgados e ràpidamente postos em liberdade (para desespero e impotência de quem os detém e os leva à justiça) para voltarem a praticar os mesmíssimos crimes, com o beneplácito (e muitas vezes a mando) do poder que controla a justiça que assim decreta. A justiça está de cócoras - com honrosíssimas e nobres excepções de salientar - perante o poder e teme-o, toda a gente sabe. O poder mantém-se à custa dos criminosos que ele próprio fabricou e o protegem. Ninguém está seguro e quanto menos seguro se sente o Povo mais o poder rebola de contente. Li há pouco num Blog uns textos que descrevem à minúcia a actuação da Mafia italiana no período entre os anos 70 e 90 do séc. 20. A CIA, está provado, esteve por detrás de todos os crimes políticos, escândalos económicos e altas corrupções que então se verificaram nos países europeus e n'alguns da América do Sul e noutras partes do mundo. Todos os criminosos actuaram a mando da Mafia cujos padrinhos por sua vez estavam ligados aos administradores d'alguns Bancos poderosos e estes mancomunados com os principais dirigentes políticos da altura. Nós em Portugal chegámos a este ponto, aliás já estamos nele há muito tempo, concretamente desde há 3 dezenas d'anos. Todos os crimes e dos piores que se possam imaginar, tiveram e têm a chancela do poder político, não é nenhuma novidade, é assim que eles se mantêm no poder, aliás o processo é decalcado dos estatutos mafiosos, é dos livros. Por mais que os tentem camuflar volta e meia lá aparecem escarrapachados nos jornais, sabe-se lá como dado o secretismo absoluto que rodeia os crápulas que nos têm governado, os nomes de políticos proeminentes (no poder e fora dele) ligados a assaltantes de bancos (em cujas fileiras alguns foram gostosamente incorporados) e criminosos - por exemplo os perpetradores dos assassinatos de Sá Carneiro e Amaro da Costa - e d'outros políticos e personalidades conhecidas, entretanto 'suicidados' por serem considerados empecilhos à continuação da criminalidade, violência, alta corrupção e pedofilia, sobretudo esta, mas não apenas esta) disfarçados de acidentes naturais de vária ordem - por exemplo, eram seguranças, secretários, motoristas, etc., de crápulas disfarçados de políticos acima de qualquer suspeita, prestigiados, respeitados, (traves)tidos como cidadãos impolutos e recebidos em todo o mundo ao mais alto nível e com honras de Estado...; burlões d'alto coturno (como agora no Brasil o corruptíssimo e ex-pseudo consul português ìntimamente ligado ao mundo dos casinos clantestinos e porventura a outros sub-mundos e a outros favores obscuros de variada espécie e qualidade, de e para o partido da altura, cujo dirigente máximo com o descaramento que lhe é característico e a desvergonha que lhe é intrínseca, se vem auto-proclamando há décadas 'pai da democracia portuguesa', deste arremedo quer ele dizer, partido este que, por sua vez, não teve o menor pudor em retirar do mercado TODOS os livros, nos quais um alto funcionário do mesmo partido e conhecedor dos seus meandros, descreve preto no branco, com minúcia e corajosamente quase (quase) todos os podres e parte (só parte) das milhentas trapacices, tráfico d'influências, crimes económicos e outros, altíssimas corrupções, etc., que membros destacados desse mesmo partido, com o principal dirigente à cabeça, a elas se permitiram ... Pois pudera, se os crimes de toda a espécie - e ainda não sabemos da missa, a metade - desde os crimes políticos passando pelos crimes de corrupção, crimes de sangue (executados por marginais a mando dos políticos e estes a mando da CIA, que por sua vez tem por detrás os mundialistas, tal como ocorreu na Itália dos anos 70, 80 e 90), pelos crimes económicos, pelos crimes na (não) correcta aplicação da justiça, pelos crimes contra a língua portuguesa, pelos crimes contra a Nação, seus Heróis e suas tradições ancestrais, até aos crimes de pedofilia, se todos eles começam ao nível dos governantes, actuais e ex-governantes e seus directos colaboradores, ex e actuais, o que é que se poderia esperar dos dirigentes e funcionários das instituições que lhes estão hieràrquicamente abaixo e até do Povo que naqueles se revê? O mesmo ou pior, evidentemente. Está provado que o Povo (os Povos), ou pelo menos parte dele, segue o exemplo dos dirigentes que o governam: se os governantes são incorruptíveis e patriotas assim tenderão a ser os Povos; se aqueles que os governam são indivíduos crapulosos e da pior espécie os Povos seguir-lhes-ão o exemplo, está na sua génese, ainda que felizmente não a totalidade um Povo. Se os governantes pedem sacrifícios, honestidade de procedimentos e civismo aos seus Povos e estes verificam que aqueles os praticam e exercem abnegada e devotamente, então os Povos denodadamente os vai querer igualar. Está provado que assim é.
O estado degradante e extrêmamente perigoso a que Portugal chegou, resultante da política levada a cabo por uma casta de timoneiros inomináveis, os quais se têm mantido agarrados como carraças ao seu leme vai para 4 décadas, está desgraçadamente à vista.
E estamos nisto. Até quando é que o Povo português vai suportar este estado de coisas, é o que todos nos perguntamos. Diàriamente.
Maria

 
At 2:59 da manhã, Anonymous Anónimo said...

"... casinos clandestinos..."
Maria

 
At 3:05 da manhã, Anonymous Anónimo said...

"...os vão querer igualar."
Maria

 
At 5:32 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Quem fala (escreve...) assim não é gago.
Creio que todos nós subscrevemos o desabafo de Maria.
Bem haja.

Nuno

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