domingo, abril 29, 2007

Mentira e propaganda política: o caso Guernica

A obra foi solenemente apresentada ao público com o nome "Guernica" pelo próprio Pablo Picasso e por Max Aub, subcomissário da exposição, na inauguração do Pavilhão de Espanha da "Exposition Internationale des Arts et Techniques", em Paris, no dia 4 de Maio de 1937.
Esta data pode ser verificada facilmente, uma vez que se tratou de um acontecimento público e que foi amplamente divulgado nas primeiras páginas da imprensa da época.
Todavia, pesquisando na internet sobre o quadro "Guernica", quase sempre se encontram textos em que abundam muitos outros pormenores, muitos inúteis e fantasiosos, mas essa data é geralmente esquecida.
A razão também é fácil de compreender. Logo na inauguração Max Aub afirmou que muito se iria falar daquela pintura. E efectivamente logo a partir dessa apresentação pública a obra converteu-se num símbolo publicitário do Governo Republicano, durante o resto da Guerra Civil e mesmo no exílio posterior. E sobretudo, tal como ainda agora acontece, apresentava-se o quadro como tendo sido elaborado por Picasso como resposta indignada ao bombardeamento que tinha sofrido a cidade de Guernica.
Porém, se atentarmos na data, logo se conclui que não pode ser assim.
Na verdade, o bombardeamento de Guernica ocorreu na tarde de 26 de Abril de 1937. Nos dias seguintes o facto tinha começado a ser noticiado e comentado em Paris, mas o quadro foi apresentado práticamente uma semana depois do acontecimento. Trata-se de uma obra com 3,5 metros de altura por 7.77 metros de largura. Não consta que estivesse a pingar tinta quando foi colocado na Exposição.
O próprio Picasso chegou a declarar que tinha demorado 60 dias a executar o trabalho. Dadas as suas dimensões, não é dizer pouco.
Pensar que o quadro foi iniciado e completado entre 27 de Abril e 3 de Maio não cabe nem na mais delirante imaginação, pese embora a conhecida produtividade de Picasso.
Uma conclusão se impõe: o trabalho não foi inspirado nem representa o bombardeamento da cidade de Guernica.
Na realidade, a história do "Guernica" começou em Janeiro de 1937, quando Max Aub, então adido cultural da Embaixada de Espanha em Paris, além de subcomissário da Exposição que se preparava, encomendou a Pablo Picasso, por ordem do Governo Republicano transmitida ao Embaixador Luís Araquistáin, um mural para ser exposto no Pavilhão de Espanha da dita exposição, mediante o pagamento de 150.000 francos.
Em vez de um mural foi executado aquele enorme painel, em óleo sobre tela, que cumpriu o seu papel na parede. Se foi Picasso, ou Max Aub, ou outro qualquer, que anteviram o potencial da designação, para cavalgar a onda noticiosa, e se lembraram de baptizar o quadro de "Guernica", nos breves dias que antecederam a inauguração da exposição, é facto que dificilmente poderá ser esclarecido. Mas a restante factualidade que envolveu a encomenda é irrefutável.
Desde então, "Guernica" tem sido objecto de estudo, crítica, opinião e inspiração um pouco por toda a parte.
Representará uma visão particular obre os horrores da guerra, de todas as guerras? Segundo alguns a tensão expressa no quadro lembra "Los horrores de la Guerra", de Goya.
O que não se distingue nele, nem podia, é alguma alusão directa aos acontecimentos históricos que então se deram, nomeadamente aos bombardeamentos de Guernica.
A denominação da obra e toda a propaganda desencadeada a partir daí representa apenas uma operação política, em que participou o milionário comunista Pablo Picasso (duas vezes "Prémio Lenine da Paz") e todas as centrais de intoxicação ao serviço das causas do costume.
Algumas más línguas sugerem que o quadro com que Picasso correspondeu à encomenda estava feito antes, ou em adiantada execução, e chamava-se realmente "Lamento en la muerte del torero Joselito", evocando a memória do toureiro Joselito (José Gómez Ortega), morto na arena de Talavera de la Reina a 16 de Maio de 1920. Não sei, mas é verdade que o malaguenho Picasso sempre dedicou grande atenção aos temas taurinos, desde a sua juventude. E observando o quadro podem distinguir-se touros e cavalos, uma composição de motivos tauromáquicos num paroxismo de morte. O que não se consegue descortinar são aviões, casas, guerra ou bombardeamentos.

5 Comments:

At 1:53 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Aceito a sua tese em absoluto. De visita ao Museu de Arte Moderna novaiorquino, há muitos anos, onde este quadro se encontrava em exposição temporária, estive a observá-lo em pormenor durante bastante tempo. O que me era dado visionar nele sem margem para dúvidas, eram de facto e justamente touros e cavalos, como cita. Por mais que matutasse no tema em presença não conseguia 'descortinar' naquela tela quaisquer bombas ou brutais destruíções e/ou horrores da guerra. Lá que que via touros, cavalos e sangue, lá isso eu via claramente. Bem mas, pensava, quem era eu - simples anónima e totalmente ignorante sobre pintura ou correntes artísticas devido à minha juventude - para duvidar de tão famosa "história" e 'título' atribuídos genuìnamente a tão ilustre obra aclamada mundialmente... e no entanto (ìntimamente) continuei a achar um pouco duvidoso que 'aquele' tema por mim observado durante larguíssimo tempo, pelo menos explìcitamente, tivesse algo a ver com guerras e bombardeamentos, mas enfim... Os meus pais diziam-me que talvez eu 'não estivesse bem a ver' e que o Picasso era um mestre, sabia o que pintava e que ele lá teria as suas razões para retratar a guerra daquele maneira. E não obstante, eu dizia cá para comigo: não me parece que a guerra esteja aqui bem retratada mas, bem, esta é a visão do famoso Picasso sobre aquele terrível acontecimento e ele lá saberá porque reproduziu na tela os bombardeamentos de Guernica personificados em touros e cavalos e, ademais, quem era eu para duvidar das suas reais motivações?
Afinal a minha ignorância não era assim tanta e a minha dúvida existencial..., quase perenal, sobre aquela enorme pintura tinha mais do que tazão de ser.
Parabéns pela excelente análise esquemática desta obra.

Maria

 
At 2:11 da tarde, Anonymous Anónimo said...

"... razão de ser".

Maria

 
At 12:14 da tarde, Anonymous Anónimo said...

El Guzmán de Alfarache, Marcos de Obregón, el toledano Gabriel de Espinosa.......

 
At 6:39 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Também tive oportunidade de "contemplar" o "Guernica", mas, não tão demoradamente como gostaria.
Na altura, de facto, não consegui associá-lo ao que se proclamou de massacre perpetrado pelas forças de Franco. Não ha relação visível.
Presentemente, as datas e a necessária demora de execução - que está documentada -, apontam para a única conclusão possível: foi um trabalho de Picasso que tinha objectivos e interesses políticos inconfessáveis.
É um enigma que a História está em via de esclarecer, embora, para mim, seja claro que se trata de uma manipulação da verdade.

Nuno

 
At 6:37 da tarde, Anonymous Anónimo said...

guernica....cuadro azarento?

 

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