domingo, março 04, 2007

Santa Comba

A mobilização do povo de Santa Comba Dão contra a excursão dos antifascistas encartados não foi, obviamente, uma súbita erupção de saudosismo salazarista. Julgo mesmo que, nas motivações, Salazar foi o menos. A questão é diferente, e mais funda.
Tratou-se de uma reacção de rejeição, de revolta mesmo, contra uma gente estranha que apareceu inopinadamente interessada pelo que se passa naquela terra só para lembrar aos indígenas o que eles podem ou não podem ter, o que eles podem ou não podem querer, o que eles podem ou não podem pensar.
No sentimento dos populares o que contou mais foi essa sensação de agressão e de humilhação. Os tais donos da História não repararam, mas os populares repararam na sua insuportável arrogância intelectual, na sua ofensiva pretensão de superioridade moral, na sua inadmissível tentativa de manter presa a memória colectiva, amarrada para sempre às suas concepções particulares.
Os devotos comunistas para ali destacados em nome do antifascismo, como todos os fiéis aferrados à doutrinação fechada das seitas, não tinham certamente a consciência ou a vontade de praticar uma agressão. Provavelmente mesmo os decisores, a nível da estrutura comunista, encararam o acto como mais uma celebração ritual das que periódicamente têm que celebrar-se para manter a solidez e a moral da congregação. Mas os populares de Santa Comba, compreensivelmente, viram o gesto com outros olhos. Viram gente que é de fora, que nunca se tinha lembrado deles nem da sua terra, e que afixava ostensivamente o intuito de ditar ali regras, de estabelecer interditos e excomunhões, para o passado e para o futuro.
Reagiram, e fizeram bem. Quem não se dá ao respeito arrisca-se quase sempre a ser desrespeitado.

5 Comments:

At 12:07 da manhã, Blogger José Borges said...

O seu blog, como muitos da mesma área política não é um bom blog. Evidencia demasiadas falácias e erros históricos apenas presentes quando o extremismo nos cega.

As referências musicais a Wagner e as filosóficas a Nietzsche demonstra a falta de pluralismo intelectual presente nos vosso seio. A existência de fóruns onde só intervem pessoas da mesma ideologia nunca é de salutar porque não promove o confronto intelectual (e não fisico como tantas vezes propõem).

Veja-se este texto sobre o museu de Salazar: a supremacia da força sobre a intelectualidade. O invasor, o estrangeiro que ameaça a paz tranquila da aldeia. Os comunistas, atarracados e ignorantes versus as populações locais ao lado da história.

Lembre-se que a história não serve para justificar o presente, apenas para o compreender.

Apesar do que possa pensar, escrevo respeitosa e democraticamente.

 
At 12:24 da manhã, Blogger O Corcunda said...

Ahahahahaha!
Lindo. Este senhor sabe mesmo do que fala. O Manuel, esse nietzscheano perigoso.
Seria bom que o comentador anterior explicitasse que relação pode haver entre Nitzsche e Salazar e que relação há entre Wagner e a falta de liberdade de expressão.
Valha-me Deus, que nem já se pode ouvir música sem levar com um rótulo.
Pobres dos que assim pensam.

O Corcunda

 
At 11:47 da manhã, Blogger VICI said...

Interessante análise...

 
At 3:30 da tarde, Blogger Flávio Santos said...

Excelente texto. Em Santa Comba Dão mandam os que de lá são!
Quanto ao pseudo-democrata supra, é típico do complacente moralismo democrata dizer-se que se respeita a opinião alheia - mas que desta, quando oposta à nossa, só pode resultar um mau blogue!

 
At 11:46 da manhã, Anonymous Anónimo said...

O blog è muito bom, amigo democrata, mas não concordo que Salazar não tenha sido, e a sua memória, um dos maiores motivos para a revolta popular, o que quer nos fazer crer a imprensa é isso, que os cidadãod e Santa Comba são "gente atrasada e hostil", como disse um especialista sei lá do quê no D.N.

A.C.J.A.

 

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