sábado, março 31, 2007

Bombeiros de improviso

Acabo de ver nos telejornais da hora do almoço o comentador Bettencourt Resendes a explicar que o caso da falsa licenciatura de Sócrates só surgiu para aproveitar a onda dos escândalos à volta da Universidade Independente.
Por outras palavras, o caso não existe, é um facto político artificial criado apenas para embaraçar o primeiro-ministro - aliás a nota explicativa divulgada pelo respectivo gabinete só por si é de molde a pôr ponto final em todas essas malevolentes especulações, e Sócrates seria incapaz de comparticipar em qualquer irregularidade que fosse susceptível um dia de prejudicar a sua vida política.
Em suma, não há nada nem pode haver, conversa acabada.
É preciso dizer frontalmente que o comentador Bettencourt Resendes, destacado para bombeiro nesta ocasião em que o fogo parece alastrar, está a mentir, e não parece provável que o esteja a fazer inocentemente.
O assunto da falsa licenciatura só mereceu o interesse da comunicação social que se diz de referência neste preciso momento porque se tornou impossível continuar a manter o tema indefinidamente abafado em conversas em surdina, eternamente em off.
Essa a única conexão possível de estabelecer entre o momento em que os principais órgãos da imprensa escrita se dignaram debruçar-se sobre o assunto e a ocasião dos escândalos policiais.
Mas impõe-se recordar que o assunto em si (sem dúvida uma pontinha do grande icebergue que importa investigar na Independente) já era conhecido e comentado por toda a gente nas redacções bem antes dos recentes episódios jurídico-policiais.
Não há ninguém de entre os jornalistas que ultimamente têm trabalhado o caso que ignore a precedência da investigação Do Portugal Profundo - mesmo que se abstenham de mencionar a fonte. Está lá tudo.
Não há ninguém na blogosfera que não tivesse já conhecimento geral dos contornos do caso, ainda que nunca se tivesse interessado pelos pormenores.
A forma com o o bombeiro Bettencourt Resendes tenta apagar este fogo é desastrada e mentirosa.
E a nota explicativa oriunda do gabinete do visado - que assim alinha institucionalmente num problema que é pessoal e competia ao próprio esclarecer - não tem esse estranho poder de fazer desaparecer a questão.
Sócrates continua a ser um engenheiro que usou o título baseado num diploma datado de um domingo, assinado por um reitor que é arguido de múltiplas trafulhices e pela filha deste, em que se pretende fazer crer que o então ocupadíssimo governante terminou num ápice, nos intervalos da governação, uma sequência de cadeiras técnicas situadas nos anos terminais de um curso que então estava só nos anos iniciais do seu funcionamento - disciplinas essas em que os examinadores foram apenas dois, António José Morais em quatro delas (estas quatro notas foram lançadas no mesmo dia) e o próprio Arouca na quinta.
Não se sabe como foi concedida a equiparação das cadeiras que foram reconhecidas como feitas, que órgão académico examinou o curriculum do novo aluno e decidiu sobre as cadeiras em falta...
A documentação comprovativa dos exames, e até das inscrições e das propinas, já teria ido "para o maneta", na expressão de Luiz Arouca, por não se guardar nada com mais de cinco anos...
Os fogos não se apagam só a soprar, ainda por cima falsidades.

5 Comments:

At 4:49 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Caro Manuel, a culpa não é concerteza da suposta licenciatura, mas de quem põe em causa a suposta licenciatura.

Cumprimentos de Thoth

 
At 11:15 da tarde, Blogger o engenheiro said...

Que grande cabala! Um homem tão cheio de virtudes, o nosso Pinto de Sousa... A culpa é de quem não percebe nada de horta e tem inveja do génio. Até porque se ele quisesse qualquer Univesidade iniciática lhe dava um doutoramento honoris causa (ou talvez mais propriamente honoris em casa a julgar pela forma como gosta de concluir os seus estudos).
O que é que pensam? O homem levanta-se cedo, lá para as 10h00 faz o seu jogging, pega no job lá para as 11h30 e só pára às 18h00 para, depois de arrumar as pastas, começar a queimar as pestanas a estudar para os exames. Qual o funcionário público que se pode gabar de fazer melhor?
O que ainda me faz espécie é o MBA. Talvez a modéstia. Porque não o doutoramento? Talvez durante a Presidência da coisa europeia...

 
At 7:16 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Há, linearmente, uma coisa que ninguém percebe: Se o Sócrates diz que é engenheiro e não é - como tudo indica -, porque é que não há um explicação clara do visado?

 
At 7:56 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Acabo de verificar que não assinei...
Fui eu!

Nuno

 
At 7:44 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Bem. Sacrifiquei-me e vi a tão esperada entrevista. Foi uma chatice que, para Portugal, teve duas virtudes: ficámos a saber que ninguém o governa nem ninguém está interessado em saber do que se passa na desgovernação e que Sócrates mostrou uns papéis cerificando que é um canalizador encartado.
Um espanto!

Nuno

 

Enviar um comentário

<< Home