segunda-feira, novembro 06, 2006

Filhos de Narciso

Não é possível escamotear a forte componente narcísica disto tudo.
O impulso que leva tanta gente a abrir um blogue e a mirar-se nele extasiado não sei quantas vezes ao dia deve muito a um autoenamoramento que vive, evidente ou reprimido, em número significativo dos nossos contemporâneos. No domínio das relações sociais o sentimento tem que ser recalcado, por obviamente inconveniente. Na tela pode expandir-se livremente, enfim solto das peias convencionais. Qualquer um pode exibir orgulhosamente o quanto gosta de si e quão alto se avalia, sem receios de contradita ou achincalhamento.
Soma-se depois o reino da opinião, aquele hábito arreigado e generalizado do "eu acho que", mão na anca e pontapé para a frente. Não há estatística que chegue para dizer com verdade a abundância e a variedade de opiniões que a respeito de tudo e de todos pululam entre os nossos concidadãos. Pode haver deficit de informação, ou de formação, mas de opiniões nunca.
Juntam-se uns pózinhos de inveja e mesquinhez, má língua e intriga quanto baste, e temos a blogosfera no seu pior.
E este é um retrato feito por quem todavia sempre estimou a dita, por méritos que também já lhe apontou e reconhece.
Pelas virtudes lhe estamos gratos, pelo resto sentimo-nos, frequentemente, fartos.