domingo, outubro 08, 2006

Justiça em Portugal: a rã sem pernas não ouve?

A política de justiça seguida entre nós desde há anos lembra-me constantemente uma velha anedota.
Conta-se que um jovem cientista ocupado a estudar o comportamento das rãs tinha treinado os seus animais a obedecer a ordens simples. Ele mandava - “salta!” -, e os bichos atentos e obedientes não falhavam: exibiam graciosamente para gáudio dos circunstantes o salto próprio da espécie.
Depois, como acontece sempre nisto de experiências científicas, o ambicioso investigador quis avançar mais. Começou por arrancar uma perna às suas rãs. A seguir ordenava-lhes “salta!”, como de costume, e elas lá saltavam, não tão bem como de costume, posto que notoriamente mais desequilibradas.
Continuando, o experimentalista arrancou-lhes a segunda perna. E vá de bradar “salta!”. Nesta altura os batráquios, obedientes, embora com grande esforço lá impulsionavam desajeitamente o corpo para a frente, num arremedo de salto.
Curioso com o evoluir do estudo, o nosso candidato ao Nobel arrancou então a terceira perna às rãs. Depois, vá de lhes gritar imperativamente: - “salta!”, “salta!”-, e os infelizes animais, revirando os olhos de desespero, ao fim de insistências várias ainda faziam um desajeitado trambolhão, com o apoio da perna restante.
Como uma experiência é para levar até ao fim, o especialista arrancou então a quarta e última perna das rãs. Como era de esperar (menos por um especialista) esfalfou-se depois a repetir a ordem, mas, por mais que gritasse e insistisse até à rouquidão, aos seus “salta!”, “salta!”, “salta!”, não respondia movimento nenhum.
As rãs permaneciam inertes e absolutamente imóveis.
Quando se cansou e desistiu das tentativas, o mancebo lançou então no seu carnet de anotações a conclusão da experiência:
A rã sem pernas não ouve”.
Entre o jovem e promissor experimentalista supra referido e os responsáveis pelas políticas de justiça que se têm sucedido em Portugal existe evidentemente uma diferença de monta: em relação a ele não há razões para pensar que tivesse algum interesse próprio em que a rã não andasse ou não ouvisse, e o mesmo não se dirá dos segundos. Estes precisam de se assegurar que ela não anda, e ao mesmo tempo explicar ao público que ela não ouve.

1 Comments:

At 9:52 da tarde, Blogger Nuno Adão said...

Significa então (como tenho dito), que a separação de poderes é tudo treta!
Ainda virão piores dias, pena é que não estejam (os que ainda permanecem de pé), preparados para...um novo salto qualitativo...

Cumprimentos

 

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