quinta-feira, setembro 21, 2006

Partidas

O que fazer?
Quando abruptamente deparo com a notícia triste do encerramento de um diálogo que eu mantinha mesmo à distância, mesmo no silêncio e no isolamento, no hábito todos os dias renovado de visitar um sítio que também já sentia meu, sinto-me sem palavras que possam dizer o que gostaria de dizer.
Por um lado tolhe-me o pudor de tentar intervir, repetindo como se só eu pensasse aquilo que pode já ter sido pensado e repensado muitas vezes (e doer). O desconhecimento do outro obriga ao respeito, miseráveis ignorantes que somos do seu ser e da sua circunstância.
Todavia, se não posso dizer, não posso evitar um profundo sentimento de perda. Nesta blogosfera esforcei-me sempre por estimular um espírito de comunidade, uma ideia de caminhada em conjunto que sai enfraquecida de cada vez que há baixas.
O Euro-Ultramarino é uma baixa importante.
Soma-se a perda a uma notória quebra de ritmo, uma ausência de vibração, que tomou conta da blogosfera por onde circulo, num reflexo desencantado do que se vai vivendo no mundo que não é o virtual.
A este respeito, e da progressão do cinzentismo entre os blogues, como lei fatal "da sociedade dos rebanhos, dos vazios de imaginação", comentou aqui o leitor BigMac.
Ai de mim, se for dele a razão. Apostei na singularidade do meio por conter uma hipótese de fuga à normalização que vai nivelando a comunicação tradicional. Se calhar, perco a aposta, como me costuma acontecer.
O leitor JSM dá razão aos meus remoques em relação às seringas, "salas de chuto e outras medidas de encorajamento das dependências por parte do Estado". Não é grande consolo ter razão nesses assuntos, dada a usual inutilidade do gesto.
Mas agradeço as atenções de ambos, BigMac e JSM.
O que não esqueço é o desgosto do outro, o que fechou a porta.

3 Comments:

At 10:21 da tarde, Blogger Bigmac said...

Uma amiga que também conheci nestes lagos (como o seu) povoados de charcos ainda hoje me disse o seguinte: "Delicia-me a
irreverência e sinto-me em casa na Ironia", é um prazer ouvir isto. Como sempre teremos direito a expressar uma opinião, que pode ou não ser lida por muitos, o sentido da coisa manter-se-á, o que irá acontecer com o crescimento será a tão grande dispersão em tantas hipóteses de escolha, que as pesoas irão recaír sobre os locais mediatizados, como publicitar é fácil, para quem sabe, era a isso que me referia. Mas cabeças dotadas de mais que dois neurórios conseguiram electriza-los para os locais mais interessantes, como este, onde se fala abertamente sem medo do menino Jesus, da testemunha de Jeová ou do mais insignificante tema.

Já reparei que mesmo em espaços privados como estes, algumas pessoas têm medo de falar, quem tem medo de falar é porque não está consciente do seu verdadeiro valor. Vamos falar e parabéns.

 
At 6:10 da manhã, Blogger Marcos Pinho de Escobar said...

Meu caro Manuel,

Muito obrigado pelas palavras gentis. Sinto-me honrado por saber que considerava o "euro-ultramarino" também seu. É justamente a companhia de confrades como o Amigo que pode transmitir a força necessária para seguir adiante.

Um forte abraço.

 
At 11:38 da manhã, Blogger damularussa said...

E seguem-se o calar dos medos tambem, que se vão juntar aos silêncios impostos. Estamos a regredir nesta nossa passagem tão breve?
Ainda ecoa em mim a frase tantas vezes repetida"Nao cales o que há em ti, isso é morrer".Continuo viva e orgulhosa da avó que a repetia, lamentando que todos não pudessem ser seus netos.
Parabéns, vamos falar sim.

 

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