sexta-feira, julho 14, 2006

Nos 70 anos do assassinato de Calvo Sotelo

Por estes dias, sem que o procurasse, vieram ter comigo notícias de mortos que permanecem.
Foi a lembrança de Barrilaro Ruas, que evoquei atrás.
Foi há poucos dias o falecimento em Madrid de Juan de Ávalos, o escultor que deu forma à monumental estatuária do Vale dos Caídos, e que já repousa na sua Mérida natal.
Foi a descoberta de que há poucos meses morreu Miguel Reale, a maior figura do pensamento jurídico que o Brasil já viu nascer. Lá se foi, sem que os meios que tantas vezes vemos a exaltar até ao ridículo umas figurinhas menores se tenham dado conta da estatura do filósofo e do jurista que partia. Também na Universidade Portuguesa, onde ainda assim haverá três ou quatro familiarizados com a obra do autor da teoria tridimensional do Direito, a notícia não teve eco, tanto quanto sei.
É certo que eram muito velhos (noventas e muitos) mas - caramba! - terá a Espanha outro escultor como Juan de Ávalos? E terá o Brasil outro filósofo do Direito como Miguel Reale?
E foi a recordação de Calvo Sotelo, do assassinato que foi rastilho para a formidável explosão da Guerra Civil Espanhola.
Nesta altura as criancinhas e todos os demais alvos da versão corrigida e aprovada sobre os primórdios da Guerra Civil não receberão certamente qualquer informação sobre Calvo Sotelo. Terão que absorver a ideia fundamental, oficialmente decretada com força obrigatória geral, segundo a qual a Guerra foi mais ou menos um capricho pessoal de uns tantos generais bárbaros e irresponsáveis, em que avulta o tenebroso Francisco Franco, que de modo gratuito e incompreensível, e praticando pelo meio toda a espécie de latrocínios, resolveram destruir a exemplar e indefesa democracia que tão harmoniosamente vigorava.
Mesmo assim, algumas vozes procuraram contar a História. Saliento o artigo de Fernando González Meléndez, que deu que falar e conseguiu ser reproduzido em diversos meios de comunicação electrónicos, rompendo o bloqueio, e esta evocação por Eduardo Palomar Baró, que nos traz o relato vivido do acontecimento, contado por quem lá esteve.