segunda-feira, março 13, 2006

Derrotas consensuais

De acordo com um estudo da OCDE apresentado hoje em Bruxelas e já anunciado em diversos meios a Europa está a perder a batalha da educação e qualificação, decisiva para a nova competição económica com as potências emergentes, como a China e a Índia.
Ninguém estranhará a notícia: como salienta o estudo, mesmo as locomotivas europeias, a Alemanha e a França, estão a arrastar o conjunto para a derrota.
A nós, que vamos empiricamente tomando conhecimento do que é o ensino, muito menos a conclusão irá provocar estranheza.
Quando por aqui se fala dos métodos e das regras vigentes nas escolas do Japão ou de Singapura, a reacção observável de imediato é de horror. Se as mimosas criancinhas das nossas fofas sociedades ocidentais fossem tratadas assim rebentava por aí um clamor a falar de tortura.
Os resultados disto não podem ser diferentes do que são. Não se pode estudar e trabalhar à ocidental e esperar resultados à oriental.
Todavia, a realidade permanece: sem entrar em divagações teóricas tão próprias da pedagogia oficial, a verdade é que estamos efectivamente a tratar de competitividade.
Ora a competitividade não se atinge sem esforço, sem sacrifício, sem dedicação e trabalho.
Conceitos evidentemente incompatíveis com as doutrinas vigentes entre nós: o esforço e a competitividade são causas eventuais de graves traumas e prejudicam o sadio desenvolvimento da personalidade dos infantes. O que se pretende é que a escola seja um local de experiências, de prazer e de fruição.
Aliás, nem sequer é aceitável defender que as crianças vão para a escola para aprender, ou os professores para ensinar; do que se trata é antes de um processo complexo, de um intercâmbio, em que o que se procura é a assimilação natural.
Tentar agora valorizar o mérito, introduzir critérios de exigência, reivindicar a qualidade, são obviamente tendências absurdas do ponto de vista em que assenta este sistema.
E será assim que qualquer proposta nesse sentido será sentida por todos. Os alunos não querem ouvir falar em exigência e rigor; os professores fogem disso, porque a exigência e o rigor para os alunos implica evidentemente exigência e rigor acrescidos para os docentes; e os pais ainda menos querem tal coisa, que problemas já têm muitos e o que interessa é que a rapaziada vá passando.
Bem se compreende, no quadro descrito, que a derrota seja inelutável. É uma inevitabilidade consensual.