sexta-feira, fevereiro 17, 2006

O que é ser português?

A nova Lei da Nacionalidade, que eu ainda não li e por isso não vou comentar, tem dado origem a larga polémica.
Algumas devem estar certas, outras seguramente estão erradas.
Escrevo este apontamento apenas para anotar uma opinião expressa pelo amigo Humberto Nuno (até agora tem sido sempre amigo, e estou confiante em que não tenha aderido a algum núcleo da mano blanca e ande também a jurar a minha desgraça, mesmo respirando ele os ares infectos da cidade grande) que me parece um tanto ousada, para não dizer pouco pensada.
Diz o meu amigo que encontrou na lei o que chama o "único aspecto positivo desta alteração legislativa", que consistiria no facto de "os netos de portugueses nascidos no estrangeiro" poderem "agora obter a nacionalidade".
Isto porque "segundo a nova lei, é concedida a “naturalização aos indivíduos nascidos no estrangeiro com pelo menos um ascendente do segundo grau da linha directa de nacionalidade portuguesa e que não tenham perdido essa nacionalidade”. (sic)
Eu não sei se a lei diz precisamente isso, mas se o diz temo muito pelas consequências.
Imagine-se a seguinte história.
O senhor John Woo nasceu na Papua-Nova Guiné há 43 anos. Nunca de lá saiu, e exprime-se num razoável inglês que aprendeu na instrução primária, além de falar bem o dialecto da sua zona. Vive de vender umas bugigangas aos turistas.
A mãe é já velhota, mas era uma bela mestiça, filha de um missionário português que para ali foi destacado em 1910 e de uma jovem papua cujas formas roliças levaram à perdição o bom sacerdote transmontano. O pai era um cantineiro local, filho de um emigrante chinês e de uma rapariga que este tinha levado de Madagáscar quando por ali passou antes de se fixar finalmente na Papuásia.
O senhor John Woo tem portanto um ascendente do segundo grau em linha recta que tinha a nacionalidade portuguesa, e que nunca a renegou (o referido missionário veio a falecer aí por 1955 na Casa de Repouso para sacerdotes idosos de uma diocese do Norte).
Obviamente, também tem um ascendente no mesmo grau que tinha a nacionalidade chinesa, e outra papua, e outra malgache. Como todos temos quatro avôs, não é de estranhar.
O senhor John Woo tem um fraco, aliás muito forte: é louco por futebol. Não perde uma transmissão televisiva. E tornou-se um fanático das proezas do Figo, e do Ronaldo, e do Deco e de mais não sei quantos portugueses que rebrilham sob a camisola das quinas.
Vai daí, o senhor John Woo, lá na Papuásia, calhou a ver a notícia das novas leis portuguesas (ele não sabe bem onde Portugal seja, só conhece os craques da selecção). Diziam no aparelho, que transmite da Austrália e por isso tem algumas notícias dirigidas aos lusófonos locais, que agora bastava ter um avô português para que quem o queira e requeira possa também ser português.
Os meus leitores nem vão acreditar no que passou pela cabeça do John Woo: anda eufórico, lembrou-se logo do avô que as histórias da avó diziam sempre ser português.
O John Woo resolveu que também há-de ser português, como o Deco, e não pára de xingar a cabeça dos restantes ilhéus que simpatizam com as toscas selecções daquelas longínquas paragens.
Qual Vanuatu, qual Fiji, Marianas ou Kiribati !! O português John Woo sofre é por Portugal, ali em frente do écran, em qualquer bar da Papuásia!

4 Comments:

At 8:15 da tarde, Blogger Je maintiendrai said...

Meu caro: bem visto. Mas disso há aos pontapés pelo mundo das ásias; mas não lhes toque, não lhes toque que agora são luso descendentes!

 
At 3:14 da tarde, Blogger Rodrigo N.P. said...

De facto está bem visto pelo Manuel. Uma desgraça completa esta nova lei.

 
At 6:44 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Meu bom amigo, antes do mais não temas que já sabes que não me agradam as sociedades secretas, e frontal sempre direi na cara, sobretudo de amigos, o que tiver para dizer.
Provavelmente expresei-me mal. O que apenas pretendia dizer era que os netos de Portugueses que se sintam COMO TAl, podem agora ter a oportunidade de ser protugueses. Esses e apenas esses como bem sabes!
Um abraço do teu amigo
Humberto Nuno

 
At 9:51 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Prezados Senhores,

Tudo o que se diz respeito a nova lei da nacionalidade para os netos de portugueses é tudo uma mentira dos políticos portugueses. Eles estão a enganar seu próprio povo... segue abaixo texto que enviado para os deputados do parlamento em Portugal.

Prezados Senhores,

Ao contrário do que está sendo divulgado na imprensa, não ouve nenhuma alteração à lei da nacionalidade. Os jornais estão publicando que os netos de portugueses passarão a ter os mesmos direitos que os filhos de portugueses, ou seja, "atribuição de nacionalidade". "MENTIRA"!! Acontece que o texto da nova lei não fala em nenhum momento em "atribuição de nacionalidade" e sim em "naturalização" que é completamente diferente de atribuição de nacionalidade. Para os leigos no assunto podem entender como sendo a mesma coisa, mas na prática e os senhores bem sabem que não. No projeto de lei 170/X do PSD estava claro, ATRIBUICAO DE NACIONALIDADE PARA NETOS DE PORTUGUESES, ou seja, corrigindo um erro absurdo na lei anterior 37/81, pois ninguém é mais ou menos neto por ter seus pais falecidos. Devido uma fatalidade na vida de uma pessoa ela não pode ter o mesmo direito de outros netos de portugueses com os pais vivos. Quem foi o responsável por tal alteração na lei?? e porque os senhores do PSD concordaram com essa alteração no texto final da lei??????

Sinceramente não entendo porque os senhores estão levantando uma falsa bandeira de uma conquista de uma mudança, que não aconteceu. Na lei anterior 37/81 já existe um parágrafo onde os netos e bisnetos de portugueses podem naturalizar-se português, tendo como pré-requisito provar ligação afetiva com a comunidade portuguesa, ou seja, o neto deve morar em Portugal para poder ter o direito de naturalizar-se. O mesmo texto foi escrito na “nova lei” . Onde esta a alteração???? Quem os senhores estão querendo enganar?? Tudo isso é pura balela. Nada mudou... na minha opinião o que os senhores políticos portugueses fizeram foi uma "falsa propaganda" para seu proprio povo em Portugal. Já que a nova lei da nacionalidade foi alterada apenas para beneficiar os netos de imigrantes (não desmerecendo eles), então para que os portugueses não ficassem se sentindo de lado ou esquecidos, resolveram levantar essa falsa bandeira como se fosse uma "nova lei" como uma "nova conquista", na tentativa de enganar os portugueses. Na realidade os portugueses estão acreditando que foi uma conquista não apenas para os imigrantes, mas também para os portugueses e seus descendentes. Os portugueses estão sendo enganados por seus próprios políticos e ninguém faz nada, todos ficam assistindo o espetáculo de mentiras de braços cruzados... é realmente lamentável...

Já estive em Portugal várias vezes, sempre como turista e para visitar parentes e amigos. Sou neta de portugueses e não tenho interesse algum de ir morar em Portugal. A obtenção da nacionalidade para mim seria como resgatar minhas origens e poder passar adiante para minha familia... minha tradição... origem... divulgar a cultura portuguesa... enfim...

Não entendo do que os senhores tem tanto medo... se é por medo de uma invasão em Portugal... isso não faz sentindo algum... Itália, Espanha, Alemanha concede atribuição de nacionalidade originários para seus filhos, netos e bisnetos e pelo que sei são países mais ricos que Portugal e nem por isso ouve invasão de descendentes nesses países... eles não fazem discriminação para com seus filhos... muito pelo contrário com isso eles têm maior representatividade em outros países... Portugal mais uma vez renegou seus lusos-descendentes da forma mais cruel e absurda... e Portugal perderá muito com isso...

Hoje todos os lusos-descendentes que tiveram seus pais falecidos e por isso nao podem ter a atribuicao da nacionalidade como os outros netos foram vitimas mais uma vez... e ficamos mais uma vez orfaos de Portugal...

Os senhores traíram seu próprio povo!!!!!!!!!

Sds,
Maria Coimbra

 

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