sábado, janeiro 21, 2006

A "crise da justiça"

Diz o "Diário de Notícias": nos tribunais portugueses as facturas da água, da luz, do telefone, dos serviços de limpeza deste mês (estamos em Janeiro!) provavelmente não serão pagas. Não há dinheiro. Se raciocinarmos segundo a lógica dos duodécimos, o que acontecerá até Dezembro!
Os senhores jornalistas poderiam acrescentar muito mais, se estivessem interessados em saber e se sujeitassem a passar algum tempo em tribunais. Aprenderiam por exemplo que os tribunais geram grandes receitas (durante esta semana em conversa com vários advogados todos se queixavam das dificuldades que sentiam por causa das custas) mas que todas entram directamente numa conta lisboeta; e que cada tribunal por si não tem um chavo, seja para comprar o papel higiénico seja para consertar os estores.
São órgãos de soberania que só comem do que os senhores Directores-Gerais quiserem por graça conceder.
Podiam explorar-se situações de comédia: os casos em que entram no tribunal acções de despejo contra o Estado por falta de pagamento das rendas do edifício do próprio tribunal, as situações em que vem pedida a inquirição por videoconferência em sítios onde nunca houve videos nem lugar para conferências com mais de três pessoas (se aguentarem o frio, porque não é possível ligar aquecedor já que a corrente não aguenta).
As anedotas: os quadros eléctricos que disparam dez vezes até que se consiga fazer a inquirição de uma testemunha...
A "Justiça" funciona realmente muito mal. E pensam acaso que os políticos e os governantes responsáveis não sabem disso? Sempre que falei com algum, por um momento em excursão fora do ar condicionado, e se chega a essa conclusão, noto-lhes logo um brilhozinho nos olhos e um gesto inconsciente de esfregar as mãos... Como poderia funcionar? Eles esforçam-se tanto!

2 Comments:

At 6:37 da tarde, Anonymous Anónimo said...

A unica maneira de resolver esta questão passará pela privatização dos tribunais à semelhança dos notários?

 
At 7:45 da tarde, Blogger Manuel said...

Essa alternativa poderá ser sugerida por quem não conheça o desastre de tal privatização dos notários (desastre para o Estado, que alienou as receitas e ficou com as despesas, e para o cidadão, que passou a pagar muito mais para ter acesso muito mais complicado ao mesmo serviço, isso não considerando as áreas geográficas em que deixará de o ter, por não ser rentável. Houve quem ganhasse, sim senhor... mas não foi o país ou as pessoas comuns).
E só com mais algum tempo é que começarão a surgir os problemas mais graves.

 

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