terça-feira, outubro 25, 2005

Dissertação sociológica

Um amigo, economista de formação, observava-me mordaz que não há nenhuma actividade económica conduzida em absoluto respeito pela legalidade que possa ultrapassar uma certa percentagem de lucro. Por outras palavras, variando as circunstâncias um negócio pode dar mais ou pode dar menos, pode excepcionalmente ser muito vantajoso, mas tudo está socialmente organizado para que, respeitando-se todos os condicionalismos existentes, não possa exceder as margens do possível.
Se deparamos com enriquecimentos à velocidade da luz, com situações em que o capital de partida era de cem e um ano depois reproduziu-se por mil, poderá o que se sabe ser lícito, mas seguramente que haverá algo oculto que explica a multiplicação, estranha às normas que a todos prendem.
A reflexão já tem uns anos, mas não perdeu pertinência na nossa actualidade - muito pelo contrário. Os fenómenos intrigantes de sucesso vertiginoso espalharam-se e tornaram-se mais e mais agressivos e ostentatórios. A riqueza, mesmo a que em tempos usava ser discreta e comedida, entrou num frenesim exibicionista. Enche-nos os jornais, as revistas, as televisões, as festas e as comissões de honra dos candidatos presidenciais.
É verdade que já em tempos remotos se comentava que o que valia a pena não era ser ministro, era ter sido ministro; mas nunca se tinha observado um trânsito tão rápido e tão intenso entre os corredores da governação e os gabinetes da alta finança, as centrais do poder económico, os conselhos de administração, os escritórios da advocacia de negócios.
Desconsola ler nas gazetas que comparativamente aos demais povos da Europa somos os mais pobres - e somos os mais ricos. E que essa caracterização tende a acentuar-se, tendência que empiricamente também sentimos.