sexta-feira, setembro 16, 2005

Poder oculto

Na sua crónica do "Diário de Notícias", Luís Delgado faz uma síntese lapidar de um processo que está em curso sob os olhos de todos - melhor que isto só o célebre estribilho "eles comem tudo, eles comem tudo,/ eles comem tudo e não deixam nada"...

PODER OCULTO
Passo a passo, devagarinho, para se notar pouco, o Governo e a maioria do PS estão a tomar de assalto todos os lugares-chave que constituem o verdadeiro poder. Seja nas grandes empresas e grupos públicos, ou onde o Estado ainda pensa que manda, como a PT, em órgãos do Estado que deveriam estar acima de qualquer confusão partidária, como o Tribunal de Contas (lembre-se que Cavaco teve o cuidado de escolher o prof. Sousa Franco), ou na designação de militantes para cargos funcionais e executivos de grande impacto público, seja no controlo subreptício, por omissão ou acção indirecta, mas eficaz, da informação - e informações. Devagar, devagarinho, mas metodicamente, como é característica do PM, o País que conta e manda vai mudando, por vagas, para o controlo socialista, sempre sem grandes polémicas, nem gritos de revolta, artigos de opinião indignados ou agitação permanente. Controlada a comunicação (a "central" do PSD era uma ideia amadora ao pé deste profissionalismo que age na base ou nos locais de origem) - o que até nem é difícil num "mundo" tradicionalmente de esquerda -, o Governo vai agindo com uma impunidade sem paralelo, e nem mesmo quem deveria pôr cobro ou resistir a algumas das decisões (o PR) está para maçadas e já assina de cruz. O caso do TC é paradigma. Se tivesse acontecido com Durão ou Santana era o escândalo nacional, a chamada a Belém para troca azeda de palavras, um coro de protestos em toda a Comunicação Social. Mas convém dizer que ainda estamos no início. Eles sabem fazê-las, têm uma teia indestrutível, são obstinados, estão preparados e gozam de cobertura quase total. Só faltava, agora, que Belém também fosse de Soares - o que nunca acontecerá -, porque, aí sim, então metade do país político era "arrasado". Guterres, na sua ingenuidade militante, era um menino de coro perante esta eficácia. Só há um problema: tudo o que excede os limites cansa, irrita, e tem um efeito boomerang. E a nossa História já o mostrou, com as maiorias absolutas que foram dadas a Cavaco. O PS tem de perceber, aceitar e respeitar que metade do País não pensa como ele e todos têm direito à indignação e revolta. Pena é que a oposição tenha desaparecido. Mas tudo mudará, com o tempo.

2 Comments:

At 2:12 da manhã, Blogger vs said...

Muito bem.

Luis Delgado - PRESENTE!

 
At 5:10 da tarde, Anonymous Anónimo said...

É este, provavelmente, o melhor artigo que essa criatura escreveu, até hoje. Mais vale tarde do que nunca. Parabéns.

 

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