quinta-feira, julho 28, 2005

Os desafios do futuro

Enquanto o mundo livre olha para outro lado, os verdadeiros desafios vão-se alinhando no horizonte.
Quem dará a devida importância aos sinais? Eis o que Francisco Sarsfield Cabral escreve hoje no "Diário de Notícias", sob um título singelo, "China":
"O crescimento económico chinês atingiu 9,5% no primeiro semestre deste ano, mais do que se previa e do que Pequim desejava (que inveja!). Há sobreinvestimento na China, provocando estrangulamentos na energia e nos transportes e podendo vir a desencadear inflação (que por enquanto se fica pelos 2%). Tão brutal crescimento assusta muita gente. Um grupo chinês comprou a britânica MG Rover (salvando parte dos seus postos de trabalho) e outro quer comprar a petrolífera americana Unocal. Mas é a explosão das exportações chinesas que mete mais medo - subiram 33% no primeiro semestre.
A competitividade chinesa tem sido ajudada por um câmbio artificialmente baixo do yuan, divisa que desde há onze anos a China manteve ligada à cotação do dólar. Ora tal ligação acabou no dia 21. A moeda chinesa revalorizou 2,1%, o que não tem grande significado económico (diz-se ser precisa uma revalorização entre 15 e 30%), mas abriu a possibilidade de novas subidas. O banco central chinês nega essa possibilidade, talvez apenas porque receia o afluxo de capitais especulativos que apostam em futuras valorizações. Veremos.
Se for continuada, esta subida poderá trazer problemas a Washington. Para não deixar valorizar o yuan frente ao dólar, o banco central da China tem comprado enormes quantidades de títulos do Tesouro dos EUA. Outros países asiáticos fizeram o mesmo. Assim se cobre boa parte da falta de poupança dos americanos. Em 2005 o défice externo dos EUA foi de 660 mil milhões de dólares. Se a China revalorizar a sério, não precisa de comprar tantos títulos americanos. A Malásia já desligou a sua moeda do dólar e outros poderão seguir-se. Os EUA terão então de subir os juros para atraírem dinheiro de fora, prejudicando a economia. Problemas de uma superpotência que vive a crédito."