sábado, julho 30, 2005

O Feiticeiro de Oz

Para que não vos passe ao lado, ofereço-vos mais um faiscante artigo de Nuno Rogeiro, pilhado na edição do semanário "Sábado" desta sexta-feira (é, o "Sábado" sai à sexta...).
Estão a ter muita saída estes temas do maravilhoso-fantástico: o feiticeiro de Oz, o bruxo do Campo Grande, o fantasma de Nafarros, a assombração da Praia do Vau...

Nas eleições presidenciais do pós-PREC, sempre que o País se dividiu ao meio, a "esquerda" venceu a "direita", ou o que por aí anda em nome delas.
Eanes bateu Soares Carneiro, em 1981, apesar da emoção pelo martirizado de Camarate, Soares ganhou a Freitas, em 1986, apesar do apoio do ascendente Cavaco a este, e Sampaio triunfou sobre Cavaco, em 1996, apesar de dez anos de modernização do Portugal terceiro mundista.
Claro que a grande congestão de sufrágios é "ao centro": quando as bases do PS e do PSD se juntam, é a tirania da quase-unanimidade. Foi assim com Eanes em 1976, com a grande coligação "burguesa", ou com Soares em 1991, quando Cavaco decidiu que tinha coisas mais importantes que fazer.
Em "polarização", porém, a "direita" parece ter poucas vantagens em se apresentar como tal. Nunca se conquistou uma eleição em Portugal, desde 1910, sob a bandeira assumida, soletrada, das "direitas". A razão deste desfavor pode ter muitas teses (a começar pelos equívocos sobre o que é, historicamente, sociologicamente, doutrinalmente, a "direita" lusitana, e os seus cavalos), mas ficam para próximas núpcias.
O que importa é referir aqui um aparente teorema, para os Cavaquistas reciclados, ou "puros", ou "novos", que preparam - com hesitações ou sem elas - um projecto para Belém: se quiser ganhar contra a assombração de Soares, Cavaco precisa de sair da inútil discussão "esquerda-direita", e passar às coisas que importam.
Cavaco sabe aliás isso melhor do que ninguém, mas é duvidoso que os adeptos o compreendam. É um tema que, vá-se lá saber porquê, continua a enfurecer muitos ex-jovens.
De ultraminoritário em 1985 a ultramaioritário em 1995, o Cavaquismo renunciou à definição ideológica precisa: não por "cobardia", como pretendem analistas mais infantis, mas por evidência e convicção. Face à mutação da economia, da sociedade e do sistema de relações internacionais, Cavaco era "de direita", se visto de certa esquerda, e "de esquerda", se observado de certa direita. A combinação de motivos "nacionais" e "sociais", a defesa do Estado justicialista, mas não dos embustes em seu nome, a obsessão modernizadora e o maquiavelismo diplomático foram alguns elementos do pragmatismo Cavaquista.
Outra questão é saber se esta chave, ideal para o governo, é adequada para a função presidencial, onde a imaginação popular, a corruptela, as más práticas e as piores interpretações, preferem colocar um Feiticeiro de Oz, manipulador e bufarinheiro, cortesão e ilusionista, a um Chefe de Estado soberano, sóbrio, eficaz e atento.
Se decidir apresentar-se contra Soares, ou contra os que apresentarão o "Soarismo" como emblema, a "revolução cultural" de Cavaco será impedir que a campanha seja, em vez de um acto cívico fulcral, uma forma superior de poesia.

NUNO ROGEIRO

2 Comments:

At 5:10 da tarde, Blogger vs said...

Artigo fantástico.
Como é óbvio, apoiarei a votarei (sem dúvidas) em Cavaco.

Soares?
Nunca.

Alegre?
Devem estar a gozar. Não?

 
At 8:30 da tarde, Blogger �ltimo reduto said...

Refira-se a título de curiosidade que na coluna do lado, Nuno Rogeiro divulga o novíssimo sítio internético dedicado à obra do Rodrigo Emílio, à semelhança aliás do que havia feito aqui há tempos na SIC com um CD do Campos e Sousa.

 

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