terça-feira, maio 24, 2005

Dr. Mabuse

Aqui em "O Sexo dos Anjos" votamos natural admiração aos santos; depois de outros já falados é a vez do "Santos da Casa".
Tudo porque este hoje se meteu a falar em Fritz Lang, e no seu personagem mais célebre: o diabólico Dr. Mabuse.
Dou a minha concordância aos que vêem "O testamento do Dr. Mabuse" (Das Tagebuch des Dr. Mabuse) como um dos mais perturbantes filmes jamais feitos (os outros parece-me que nem tanto).
Para complicar as questões a esse respeito, permito-me no entanto dirigir uma observação a um dos comentários de FGSantos: diz este que "O filme de 1933 foi entendido como uma alegoria ao nazismo, o que certamente não estaria fora dos planos de Lang".
Talvez sim, talvez não. Sabe-se que o que mais há é história em marcha-atrás, literatura de justificação, e anti-fascismo póstumo. Eu, olhando para o filme, não resisto a pensar que em 1933, ou actualmente, não seria como uma "alegoria ao nazismo" que o mesmo seria provavelmente encarado por um qualquer adepto convicto do nacional-socialismo. Aquele mal que cresce a partir das trevas e oculto alastra ameaçando o mundo não seria visto sem uma emoção comovida pelo tal nacional-socialista. A identificação imediata não seria nem será seguramente a que sugere o comentário citado.
E o mesmo que eu devem pensar muitos e bons anti-fascistas, porque o filme em causa nunca beneficiou de grande favor nos círculos culturais dominantes nestes últimos setenta anos. Ao contrário, a fita quase foi relegada para a clandestinidade.