sábado, abril 02, 2005

Terri Schiavo

Que sentido faz manter artificialmente viva uma pessoa cujos sinais vitais dependem exclusivamente de uma máquina a que está ligada?
Normalmente é assim a interpelação interrogativa do discurso defensor da eutanásia.
Compreende-se por isso muito bem que, apesar do aparente ruído mediático, o caso de Terri Schiavo se tenha desenvolvido e o resultado se haja consumado no meio de um estranho e incomodado silêncio sobre os aspectos mais relevantes da situação.
Na verdade, a vida de Terri não era artificialmente mantida por máquina alguma: ela carecia apenas de alimentação, como qualquer ser vivo, e não podia providenciá-la por si mesma, o que já nos aconteceu a todos em algum momento das nossas vidas.
A decisão de retirar um tubo de alimentação, e de proibir a administração de qualquer alimento, vai muito para além da vulgar discussão sobre a eutanásia.
Terri Schiavo não morreu de doença, não sucumbiu de morte natural resultante da evolução normal de qualquer patologia que a afectasse: faleceu por inanição, à sede e à fome, depois de quinze dias sem água ou alimentos.
É difícil apresentar como "morte digna", para lembrar os slogans usuais, esta execução lenta e cruel.
E a vítima nem estava em coma, ao contrário do que vi abundantemente referido, nem consta que lhe faltasse a sensibilidade, e nem sequer é verdade que estivesse inconsciente (estava vigil, apesar da gravidade das lesões cerebrais que a diminuíam).
A sua vida era "indigna"? Onde residia a "indignidade"?
Vão as nossas sociedades enveredar por este caminho de seleccionar as vidas que são "dignas" e as que não o são, e passar à prática os padrões que ficarem definidos?
E quem ficará com o poder de julgar se uma vida atinge o grau mínimo de "dignidade" para ser mantida? Os médicos? Os tribunais? As famílias? Alguma repartição pública? Comissões parlamentares?
O que se passou é grave demais, no seu significado e nas suas implicações, para caber num comentário.
Faço questão tão só de remeter os leitores para o que encontrei de melhor na blogosfera sobre o caso Terri Schiavo.