sábado, janeiro 22, 2005

Tendências no cenário político brasileiro

Apesar da dificuldade em determinar com certeza o rumo que adotará o governo Lula, cabe registrar certas manifestações e movimentações do cenário nacional.
a) De um lado, os petistas mais comprometidos publicamente com o caráter socialista do Partido, bem como os aliados de esquerda do governo Lula, incluídos a "esquerda católica" e os ditos movimentos sociais, exigem do governo a ruptura com o modelo econômico que qualificam de "neoliberal".
Na prática, uma forte socialização e estatização da economia, a implantação de uma Reforma Agrária radical, com a conseqüente coletivização do campo, o calote da dívida, a restrição à entrada de capitais estrangeiros, etc.
b) De outro lado, há aqueles que apontam como única saída para o governo Lula, a manutenção estrita da atual política econômica, e uma "despetização" do governo, com o afastamento de todos aqueles que vinham levando a cabo a consolidação do chamado projeto de Poder. Neste sentido, Lula já acenou para um governo de coalizão nacional. Falou-se até da necessidade do afastamento do Ministro da Casa Civil, José Dirceu, o homem forte, acusado pelos erros do governo Lula, especialmente o caráter
autoritário e agressivamente esquerdista deste.
c) A observação do quadro político indica, por outro lado, uma terceira possibilidade, a qual parece ir ganhando força nos fatos. Após o afastamento de figuras expressivas da esquerda, Lula da Silva poderia tentar manter ao máximo sua equipe governamental e prosseguir a marcha esquerdizante que vinha realizando até agora. Ou seja, garantir a relativa estabilidade econômica, enquanto assegura a manutenção do núcleo duro do governo, comandado por José Dirceu, Ministro da Casa Civil. Está nessa linha o destaque que Lula da Silva dará ao Ministro, a quem encarregou de fazer o discurso de balanço dos dois anos de governo. Vão igualmente nessa linha as recentes declarações de José Dirceu, o qual afirmou ser necessário evitar uma aventura, mas de outro lado ter audácia.
Resta saber se Lula, depois do inequívoco recado das urnas, está disposto a prosseguir sua marcha rumo a um regime autoritário, que atente cada vez mais contra a propriedade privada, enfrentando assim a opinião pública. Neste caso é de se prever que vá vendo diminuir o número dos que o apoiam e crescer o descontentamento.

(in TFP)