quarta-feira, dezembro 29, 2004

Mais do mesmo

Começam a surgir as novidades para as próximas eleições.
Qualquer observador dirá que não são novidades, apenas mais do mesmo, o contínuo resvalar na mesma rampa inclinada, a descer não se sabe até onde.
Ainda assim, não deixo de me espantar.
O PS anuncia como cabeça de lista nos Açores o Dr. Ricardo Rodrigues.
Quem quererá tramar o PS, infiltrado na respectiva direcção? Ou é apenas autismo, que provoca uma absoluta insensibilidade às questões relacionadas com os escândalos sexuais e da pedofilia? Será que a direcção do PS ignora que colocar o Dr. Ricardo a encabeçar a lista de Ponta Delgada tem no local o mesmo impacto que teria o anúncio de Paulo Pedroso a chefiar a lista de Lisboa? (Consta aliás que este nome chegou a ser considerado como candidato! Trata-se mesmo de autismo - o PS está isolado do mundo exterior).
Em Coimbra o PS anuncia como cabeça de lista a estimável senhora D. Matilde Sousa Franco. Lembra-me aqui há uns anos quando o PSD nomeou Fernanda Mota Pinto para um cobiçado cargo, na Misericórdia de Lisboa, e apareceu logo um artigo de Paulo Portas intitulado "O tacho da viúva". Que critério é este? Ainda se trata de política? Ou já é outra coisa?
E largo por agora o PS, embora muito mais pudesse dizer.
E vamos ao PSD. Este decidiu incluir o fadista Câmara Pereira (para alargar a sua base de apoio?!!), e avançou sem se deter para outros abismos.
Em Bragança o cabeça de lista será Duarte Lima. Até poderá ter um bom resultado - mas garanto que lá no distrito toda a gente sabe alguma coisa do processo de enriquecimento desse filho da terra de Miranda. O conhecimento não se fica por aqueles que tiveram lícita ou ilícitamente acesso às páginas dos processos judiciais, ou das investigações policiais. Podem ganhar as eleições - mas a alma?!! Não digo mais - mas garanto que estamos perante um dos casos mais representativos da degradação dos costumes, da corrupção entranhada nos hábitos profundos desta república. Mais que Isaltino, mais que António Preto, mais que Valentim, mais que Fátima Felgueiras - porque se situa mais ainda do que esses no núcleo e na essência do poder político actual.
Outra notícia que me perturba: o Alentejo perdeu mais um deputado, devido à fatalidade demográfica. Passaremos a estar representados tão só por três deputados por Beja, três deputados por Évora e dois deputados por Portalegre. Somos mais de um terço do país - e estamos a extinguir-nos, sem que isso estremeça o marasmo e a indiferença de quem governa.
Mesmo assim a cobiça por tais lugares, e a fraqueza das estruturas políticas locais, vai trazer-nos de novo a situação já vivida antes: a colonização dos lugares elegíveis por notáveis de Lisboa que só cá virão na altura da campanha eleitoral. O PSD já disse que a cabeça de lista por Évora será a Ministra da Cultura, Maria João Bustorff. Embora acredite que a senhora já tenha estado em Évora, para almoçar no "Fialho" ou avistar o templo romano, por mim acho desoladora a escolha. Qual a ligação profunda que a dita senhora pode invocar com esta terra e estas gentes para que amanhã vá discursar a dizer que nos representa? (Supondo que a sua eleição visa ocupar o lugar, o que não é certo, ou só o será se o partido perder as eleições).
Apetecia-me continuar os comentários, mas torna-se desnecessário consolidar a reputação deste blogue com respeito a textos longos, amargos e chatos.
Faço apenas um reparo para o PCP, que assombrosamente parece ter optado por ressuscitar uma encenação épica daquelas prodigiosas óperas soviéticas ou chinesas dedicadas à glória das grandes lutas do proletariado. Todos unidos, olhos ao alto, bandeiras vermelhas ondulantes ao vento do palco, cantemos a glória do Partido!!
Só de punho erguido a canção terá sentido!....
O quadro é sem dúvida empolgante para os devotos, mas tem um sabor revivalista que nos transporta para outros tempos e outros lugares.
O cabeça de lista de Beja será José Soeiro! O secretário-geral é agora Jerónimo Sousa! O cabeça de lista por Portalegre será o saudoso José Luís de Avis?
Enfim, parece-me que pelo lado do PCP teve o PS muita sorte para estas eleições. Se as perder, com as condições que tem à partida, tudo na mão desde a comunicação social à presidência, só pode ser por culpa própria, única e exclusivamente.
Mas parece-me bem capaz disso.