sábado, novembro 27, 2004

FERNANDA LEITÃO

Aerograma lírico de Rodrigo Emílio, com um terno aceno, a bordo, e a mais transatlântica das mágoas...

Esta voz
que nos vem
do Canadá
lutou por nós;
bateu-se bem.
Perdurará.

Foi uma chama
de fé, no mapa
da derrocada;
e clarim, até:
clarão d`alvorada!
— É uma dama
de capa
e espada.

Lá cama,
papa
e roupa lavada
na CEE,
não são calçada
para a passada
do seu pé.

Outra é a gama
da sua harpa;
outra, a toada.
— Só, e de pé,
é uma dama
de capa
e espada.

Detrás de si, traz
— sempre rapaz...,
e muito em segredo... —
a sombra do meu velho Tomaz
de Figueiredo,
a sacar da caneta,
a ripar de papel,
a embeber-se com ele
no fel do tinteiro,
e, como o Pimenta,
a arriscar a pele
p`lo Senhor Dom Miguel

e por Paiva Couceiro!...

Que mundos
imundos
tem tal madrepérola
topado defronte...!

Por isso, dá urros
de génio; e dá murros...
Por isso, anda a monte,

e a dar com os untos
nos ossos de muitos...
Daí que reponte,

por mais e mais duros
que sejam os rumos
que a Terra lhe apronte...!

Mas
surdos e mudos
é o que hoje gera
todo o horizonte...

Vivos ou defuntos
que o céu nos encontre,
— aqui juro, a pés juntos,
que estaremos juntos
em Évora-Monte!

... E até pode ser que venha a calhar
num outro lugar...

(— Tomara, tomara que fosse em Tomar...!)

Rodrigo Emílio
(Casa de S. José, em Parada de Gonta, aos 5 de Setembro de 1991.)