sábado, outubro 30, 2004

A PAU COM A ESCRITA, por Fernanda Leitão

AS CARPIDEIRAS
Nas duas últimas semanas um número apreciável de pessoas, em Toronto e fora de Toronto, têm-nos feito saber quanto estão agastadas com o ridículo coro de carpideiras em exercício depois da partida do antigo cônsul Magalhães. Não sabemos ao certo se carpideiras órfãs ou viúvas, mas não duvidamos que todas elas vertendo lágrimas e lamúrias mercenárias.
À falta de melhor argumento, agitam agora o farrapo esfiapado da necessidade de o ex-cônsul ser julgado, garantindo que saíria do banco dos réus em ombros, como um herói sem mancha, graças a uma testemunha que não teriam deixado depor. A verdade é que essa testemunha só apareceu a fazer declarações a um jornal de Lisboa um mês depois de tudo ter acontecido, isto é, tarde demais. E depois, era uma testemunha contra o testemunho de três membros da polícia, mais a queixa-crime subscrita pelo ministério público, devidamente aceite pelo Ministério das Relações Exteriores do Canadá. Mesmo sem óculos pode ver-se que era muita areia para a camioneta do Artur. E assim sendo, como podem as carpideiras garantir que o réu seria absolvido? E não sendo absolvido, como ficaria o estado português somando mais esse escândalo e vergonha? Não sendo absolvido, e tendo em conta histórias consulares arquivadas que se podem abrir em qualquer altura, quem poderia garantir que o consulado não seria encerrado? Para além do diferendo que há hoje entre o Canadá e Portugal por causa da futura presidência do Conselho de Segurança da ONU, para a qual o (des)governo de Lisboa pretende apoiar o Brasil, para além desse factor que não se pode ignorar, há ainda a circunstância de Portugal ter deixado de ser um país fiável para passar a ser um santuário dos barões da droga e dos lavadores de dinheiro sujo. Isso ficou claro por ocasião do caso dum antigo agente da RCMP, português, que traíu a confiança em si depositada e, quando se viu descoberto, fugiu para Portugal. A polícia portuguesa fez vista grossa, a justiça à portuguesa absolveu-o, na presença de observadores da RCMP. Este e outros casos certamente não põem o Canadá de braços abertos e bom humor quando se verificam incidentes entre representantes do estado (a que Portugal chegou) e as autoridades do país onde vivemos.
Por conseguinte, as carpideiras são isso mesmo e nada mais. Choram pelos trocos já recebidos, como um clube que recebeu quase 8 mil dólares, e pelas promessas de pagamentos futuros, só para alguns clubes, dinheiro oriundo da Direcção Geral dos Assuntos Consulares, certamente graças ao secretário de estado das Comunidades, um velho amigo de Magalhães desde o tempo em que o actual governante era funcionário do consulado de Portugal em Paris. As carpideiras de agora andavam tão entusiasmadas com essas promessas que nem ao menos lhes ocorreu que seria (mais) um abuso cometido com dinheiros públicos, isto é, do povo que paga impostos. E, nessa altura, nada preocupadas, as carpideiras, com o que isso representava de profunda desunião da comunidade num futuro próximo porquanto, dando dinheiros a uns e não dando a todos, fácil era perceber que o Sr. Artur Magalhães não procedia como um cônsul para todos os portugueses, mas como um amigo para as ocasiões de alguns beneficiários.
À medida que as semanas vão passando, percebe-se cada vez melhor o que faz ganir as carpideiras. Tiraram-lhes a gamela debaixo dos queixos. Porca miseria, che maledetos – como diria qualquer freguês da Causa Nostra.

FERNANDA LEITÃO