sábado, outubro 09, 2004

O perfil do Nobel

Em face das últimas notícias sobre prémios Nobel, e passando em revista os útimos anos, lembrei-me de uma brincadeira do falecido filósofo Rafael Gambra e reparei que as escolhas da academia sueca revelam cada vez com mais nitidez a existência de padrões que permitem definir um perfil ideal para o premiado.
A primeira regra é que o candidato tem que enquadrar-se ao menos numa categoria das privilegiadas na vulgata do politicamente correcto. Se couber em várias dessas categorias, tanto melhor.
Por exemplo: o ideal é que seja mulher, preta, e activista de qualquer causa vagamente terceiro-mundista ou contestatária. Se não puder ser isso tudo, por exemplo por ser mulher e europeia, então que seja lésbica, ou feminista radical, ou combatente pró-aborto. Se tiver que ser um homem, e não for negro, nem homossexual, terá que ser judeu, e militante anti-fascista e anti-racista desde o berço ou desde o útero materno. Sendo homem, branco, não judeu, e heterossexual, só poderá ser comunista a vida inteira. Se não estiver em nenhum desses grupos, ao menos que seja budista ou muçulmano.
Em qualquer caso, nenhum dos situados numa categoria pode deixar de sorrir às outras todas.
É portanto um perfil muito amplo: algo assim entre a Simone de Beauvoir e a Winnie Mandela, o Pedro Almodovar e o Michael Jackson, com uma estreita abertura a Manuel Tiago.