quarta-feira, outubro 06, 2004

Ar puro, correntes de ar por toda a casa empestada...

Quando demasiadas tensões são reprimidas durante demasiado tempo chega um momento em que podem explodir como uma panela de pressão...
Não sei se assim acontecerá com o PCP, mas parece-me certo que o processo desencadeado por Carvalhas ao decidir antecipar-se ao momento e ao modo escolhidos por outros de forma a impedir que se concretizasse a substituição rápida e discreta que estava planeada pode trazer consequências muito mais vastas do que ele alguma vez previu.
Para já colocou na praça pública a discussão de assuntos que os responsáveis pelo partido desejariam manter a bom recato ("nos locais próprios", para usar a sua linguagem).
É como se o apagado Carvalhas, farto de levar pancada e fazer de burro de carga estes anos todos, resolvesse dar um valente coice na mobília quando já ninguém o cria capaz de reagir.
E as forças desencadeadas podem exceder todas as previsões. Resta saber se a velha casa há tanto tempo fechada aguentará estes abanões.
Também aqui pelo Alentejo começou a agitação. E não é só no aconchego das sedes: transborda e extravasa por todo o lado.
Vejam as declarações do Presidente da Câmara do Redondo.
"A declaração de Carvalhas surpreendeu pelo timing. Ou bateu com a porta ou foi empurrado", disse Alfredo Barroso.
Lembrando que a direcção do PCP mostrava já alguma insatisfação com as posições assumidas pelo secretário-geral relativamente a algumas questões, Barroso prosseguiu dizendo que "Carvalhas foi, apesar disso, o porta-voz das posições assumidas pelas linhas mais ortodoxas do partido, mas o seu timing para anunciar a saída seria, talvez, um pouco mais próximo do Congresso", acrescentou, admitindo a possibilidade de a corrente dominante no PCP pretender um congresso "mais controlado".
Alfredo Barroso referiu ainda que espera um debate em torno da renovação do partido, e quanto à posibilidade de entronização de Jerónimo de Sousa como sucessor de Carvalhas disse logo que "isso significaria fechar o partido à sociedade. Apesar de ser ainda prematuro falar de nomes, fala-se já de alternativas, caso de Carvalho da Silva. O líder da CGTP é aquele que oferece garantias de abertura do partido".
Temos portanto que a tempestade pode estar à porta.
E já agora acrescento, como curiosidade adicional, que neste ano que decorre até às autárquicas se anuncia por cá uma verdadeira dança das transferências, à maneira futebolística... Os empresários já estão em campo, apalpando o terreno... O PCP é o alvo da caçada, o PS e o PSD concorrem no mercado. Quem viver verá.