sábado, agosto 28, 2004

Noticiário

Aprende-se muito acompanhando o que surge nas agências internacionais. Até a velocidade com que certas notícias aparecem e desaparecem deixa geralmente valiosa informação sobre o andamento do mundo.
Hoje encontrei novos relatos, em tom de banalidade, de mais abusos e perseguições ditados pelo regime de Mugabe sobre os brancos que ainda restam no país. A notícia vai passar rapidamente, até por obediência à doutrina já defendida na reunião da Comunidade Britânica de que é preciso moderar o protesto para não radicalizar o tirano. Por seu lado as organizações de direitos humanos, e especialmente as anti-racistas, apesar da natureza declaradamente racista da legislação e dos desmandos que a precedem e se lhe seguem, irão ignorar os acontecimentos. Não admira: tais organizações nasceram sob o axioma indiscutido de que racismo só há um, o dos brancos e mais nenhum. Entretanto, a miséria e a fome tomaram conta de uma região que há não muitos anos era o celeiro de toda a África Austral, um modelo de prosperidade.
Da América veio a notícia de que o Secretário de Estado Colin Powell anulou a visita que tinha anunciado para estar presente no encerramento dos jogos Olímpicos de Atenas. O motivo alegado foi a sobrecarga de agenda, mas os observadores são unânimes em atribuir a decisão à situação incontrolável que se estava a gerar em Atenas com a dimensão dos protestos de massas contra tal visita, que ameaçava estragar completamente os dias finais dos Jogos.
Creio bem que se está a chegar a um ponto em que os mais conhecidos dirigentes americanos só podem fazer visitas ao estrangeiro depois de os marines irem à frente a securizar a zona. De momento, as visitas de menor risco são a Cabul e a Bagdad.
Com muito maior ligação a esta do que aquilo que se pode pensar à primeira vista, apareceu agora na grande imprensa americana outra notícia sobre a existência, afirmada pelo FBI, de um alto funcionário do Pentágono envolvido em actos concretos de espionagem a favor de Israel. Dizem as notícias que seria pessoa colocada a nível tão elevado que poderia ter influenciado a definição da política americana em relação ao Irão e ao Iraque. Resta esperar pelo ciclo de vida desta notícia: anteriormente já houve escândalos destes, e tudo acabou por ser menorizado, abafado, esquecido, em nome dos equilíbrios fundamentais que estão em causa em tal matéria.
Mas o facto de a notícia aparecer, de o problema existir, de a investigação ter sido feita e ter sido soprada para os jornais, demonstra que subterraneamente se desenvolvem confrontos que podem ser muito mais importantes do que aqueles que se desenrolam à luz do dia.
A realidade tem muita força, e a História não termina só porque algum Fukuyama assim decreta.