quarta-feira, agosto 25, 2004

Ainda ROLLERBALL

No seguimento da entrada anterior, sobre o jogo no "brave new world", lembrei o "Rollerball"; e com essa lembrança, do filme que vi, se bem me lembro, no cinema Alvalade, recordei também um jovem aprendiz de crítico de cinema que escreveu e publicou nessa altura um breve apontamento sobre a fita. Aqui o ofereço aos meus leitores, especialmente aos companheiros de tertúlia desse crítico já esquecido que por aqui costumam passar.

ROLLERBALL PARA VIVER
Já no "Jesus Christ Superstar" Norman Jewison tinha mostrado a sua capacidade de realização, tanto mais exemplar quanto mais difícil.
Em "Rollerball" vibra intensamente a força, no movimento das imagens; imagens de luta, de choque, de combate brutal progressivamente liberto das "regras do jogo". Jewison atingiu a exacta dimensão da vida.
Numa sociedade de bem-estar material - no século XXI ou no século XX, não importa - a ausência de obstáculos, de desafios ao esforço e à combatividade humana produz como norma o tédio, a falta de finalidades a caminho de autodestruição. (Nos homens como nas Nações, aliás.) Para o evitar, como instrumentos de drenagem da energia do universo animal que reside no homem, existe Rollerball, um "jogo" tornado instituição; a sua finalidade, política, suprema, é, contudo, demonstrar a inutilidade do esforço individual face à crueza da luta. Nada mais correcto para um poder-providência tecnocrático que se ergue omnipotente e omnipresente sob o rebanho igualitário e despersonalizado que caracteriza essa sociedade do século XXI. 0 "Rollerball" é pois uma peça chave do sistema.
0 grão de areia surge, inevitável, na figura de um homem que sabe lutar, ás do "Rollerball", e, também, pensar. Ele próprio, antes e para além da equipa, defronta o conluio e põe em xeque toda a engrenagem do poder, acabando por triunfar. É um percurso clínico do Herói, "perigosamente popular", homem total e por isso mesmo uma ameaça à lógica da "sociedade unidimensional" do (nono) século XXI.
A violência e a ferocidade do combate saem, de "Rollerball", inteiramente absolvidas. No patológico labirinto de ideias utópicas que nos rodeia, "Rollerball" é um manifesto contra a morte. Um filme saudável que se impõe ver.
V. L. R.