quarta-feira, junho 23, 2004

Getsemâni

Dormem os meus, gastos de dor
E de cansaço o corpo exangue.
Na minha pele escorre suor
Das minhas veias brota sangue.

Será um Anjo que alivia
A solidão deste meu Horto?
Ele refresca-me a agonia
Dá-me firmeza e reconforto.


De Getsemâni subo a via,
Ao longo vou da noite escura.
A noite é longa, a noite dura,
Ó noite, cheiro da agonia.

Ao meu redor, nada subsiste
de tudo quanto desejei.
Até à morte a alma é triste,
Minh'alma é triste... vigiarei.


Pai, vem a aurora que anunciaste?
Vem perto aquele que me livra?
Ah! que este cálice se afaste!
E que a manhã deixe que eu viva!

Mas se a hora é mais e mais estreita,
Se ninguém quebra esta prisão,
Vossa vontade seja feita,
A Vossa, Pai, e a minha não.

R.B.