sexta-feira, junho 11, 2004

Divagações pré-eleitorais

Como já tem sido desenvolvido por mentes mais capazes, a democracia é fértil em paradoxos. Chegados então aos momentos decisivos dos rituais democráticos eles ressaltam até ao mais distraído. Por exemplo, nas eleições. De acordo com a crença mais ortodoxa, a votação pressupõe o esclarecimento. Uma pessoa para votar deve ser conhecedora daquilo que vota. Mas, como é patente, o que acontece as mais das vezes é que só é possível votar no desconhecimento completo. A quem conhecesse não o apanhavam nessa.
Estou a pensar a este propósito no Professor João de Deus Pinheiro. Tudo leva a crer que terá muitos votos. Porquê? É simples: os votantes não o conhecem. Tivessem eles travado conhecimento com o personagem e outro galo cantaria. Eu, por mim, confesso: por azares da vida calhou-me conhecer o sujeito. Resultado: se alguém me disser que eu sou capaz de votar nele eu talvez não passe logo à agressão física mas que me assalta uma súbita vontade isso garanto.
Pessoa de bem que tenha conhecido mesmo ao de leve semelhante criatura não consegue votar nele. Olhem, para verem que não sou só eu, o Dr. Durão Barroso (e nem juro que seja pessoa de bem) conhece-o perfeitamente. E como ele muitos outros lá da mesma agremiação. E julgam que eles votam nele? É o votas! Chegados lá ao escondidinho da Câmara escura não são capazes. Rabiscam qualquer coisa para inutilizar o voto, suspiram, e vão-se embora aliviados. Evidentemente que eles querem que o Prof. Deus Pinheiro tenha os votos suficientes para ir de marcha para Bruxelas,ou Estrasburgo, ou lá o que seja desde que seja longe. Mas só isso. Nunca serão capazes de votar nele, embora peçam aos seus santinhos que haja os suficientes a votar. A que se deve esta aparente contradição? Não há contradição nenhuma, apenas acontece, como eu já tinha dito ali para trás, que eles conhecem-no, e quem o conhece nele não vota. Aliás, a opinião de Durão sobre o cavalheiro já é antiga, e nunca constituiu segredo.
De maneiras que é assim: quem conhece não vota, e quem vota não conhece. Neste sábio equilíbrio vão-se as coisas compondo. E de outro modo não funcionava isto.
De onde se conclui ser indispensável preservar a ignorância das massas, pressuposto essencial ao bom andamento do sistema. Caso contrário, ainda se esboroava a fé, que é alicerce da democracia.