domingo, maio 09, 2004

O nojo e a vergonha


Tenho propositadamente gasto poucas palavras com o súbito escândalo gerado pela publicação de algumas fotos tiradas por alguns militares americanos, para exibição entre camaradas e famíliares, documentando o dia a dia nas prisões onde se encontravam colocados. Há realidades que falam por si, gritam sem precisar de amplificador.
Sabe-se hoje, pela própria grande imprensa americana, que fotos dessas, e mesmo videos, em poses do mais repugnante exibicionismo e da mais vergonhosa degradação, circulavam há muito tempo, em álbuns, em CDs com milhares de fotos digitalizadas, até em videos. Sabe-se também que os governos britânico e americano estavam há muito alertados pelos relatórios das principais organizações humanitárias internacionais, as quais agora se espantam com o espanto simulado dos porta-vozes desses governos (que todavia sempre vedaram o acesso dos observadores independentes aos lugares em causa).
Segundo o Presidente Bush, no entanto, os factos resumem-se a malfeitorias de uns poucos, numa prisão determinada. Sete militares estão já acusados.
Chegados aqui, é forçoso dizer as coisas claramente: esta posição é mais abjecta do que as piores abjecções praticadas.
Tudo aponta para uma realidade totalmente inversa: o que dizem as organizações internacionais, com a Cruz Vermelha à frente, e já há muito tempo, o que dizem os prisioneiros, o que dizem todos os militares até agora ouvidos, é completamente o oposto. Trata-se efectivamente de um vasto sistema instalado, de uma prática sistemática e organizada, expandida e incentivada desde o Afeganistão a Guantanamo. Procurar afirmar que se tratou de uns desvios de seis ou sete (à revelia e no desconhecimento das respectivas hierarquias?!!) é juntar uma vergonha mais ao nojo e à vergonha que tudo isto representa.
A fotografia acima é de Dezembro de 2003.
Não, eu não tenho nada que me ligue a esta gente que diz lutar pelo ocidente e pela civilização. O meu Ocidente não é esse, a minha Civilização nunca foi essa.