quarta-feira, maio 26, 2004

Afinal sempre há eleições?

Chega a duvidar-se de tal, considerando a invisibilidade do facto.
Mas dei por mim a pensar que elas existem quando vi a notícia dos ataques do Dr. Durão Barroso ao seráfico prégador baptista Francisco Louçã: diz o primeiro-ministro que este "é desonesto intelectualmente e insuportavelmente arrogante e não merece qualquer resposta". Sendo verdadeira a afirmação, a atitude não deixa de ter aspectos intrigantes. Isto foi dito pelo chefe do governo perante o mais solene auditório do país, e de forma a ter a maior amplificação possível. Sendo notório ainda que já se trata de repetição. E sendo mais que evidente a forma como vai tratando de lhe responder, reiteradamente, em frente das televisões todas, enquanto diz que ele não merece resposta.
Ora o ilustre político que é o nosso primeiro sabe muito bem que na circunstância a melhor forma de desvalorizar o beato Louçã e o seu agrupamento é ignorá-lo - e sabe perfeitamente que as acusações e o esbracejar frenético do grupinho destinam-se precisamente a conseguir publicidade.
Ao dar-lhes troco, e promovê-los a protagonistas de um debate público, ignorando a oposição oficial e institucional, durão manhoso está conscientemente a colaborar na elevação do berloque de esquerda ao papel de aparente e visível força propulsora da oposição. Para depois, evidentemente, como já fez, andar a bramir que esta anda a reboque de um grupelho de extrema-esquerda.
Ou seja, e falando francamente: o Dr. Barroso quer que o berloque tenha o maior número de votos possível, e roa as bases eleitorais do PS e do PCP. Aprendeu e não esqueceu que a inconsistência e efemeridade dos esquerdismos vários, a que Lenine oportunamente crismou de "doença infantil do comunismo", não colocam perigo algum para as forças da situação.
Ao contrário, devidamente utilizados, os esquerdismos folclóricos servem para abalar e destruir a esquerda viável - aquela que ele tem receio que possa reforçar-se eleitoralmente. Escolheu portanto o berloque como o catalizador ideal do voto anti-barrosista, precisamente por ser o mais seguramente inconsequente.
O Dr. Barroso está a impulsionar o berloque loução como em tempos outros promoveram o MRPP, como a força desestabilizadora e desestruturante ideal contra a esquerda portuguesa.
Com que então não há eleições?!!!