sábado, abril 17, 2004

A Paixão

Pois é, ainda não falei da Paixão segundo Mel Gibson... mas a razão é simples: eu ainda não vi o filme, o dito ainda não chegou a Évora. Continuo expectante. Entretanto a fita já me indispôs contra Franco Zeffirelli. Este é conhecido pela sua realização há uns anos de uma obra sobre a vida de Jesus, e é uma espécie de "católico oficial". Por essa razão foi entrevistado na TV italiana a propósito do filme de Gibson. E lá falou, empinocado no seu lencinho colorido, com uma incompreensão de todo o tamanho sobre aquilo que é essencial numa visão católica da Paixão: para quê tanto sangue, tanto sofrimento, é uma história tão bonita, o amor é que é o essencial, não havia necessidade... e depois reabrir feridas...
O homem estava visivelmente incomodado com a "Paixão" de Gibson. Repare-se que Zeffirelli é um esteta; homem do teatro, da ópera, encenador experiente, realizador consagrado. E a vida e morte de Cristo são de um ponto de vista artístico extremamente ricas, interessantes... um tema fascinante. E reconhecia a força cinematográfica da fita de Gibson. Mas o catolicismo de Zeffirelli é por forma evidente o catolicismo sem a Cruz, que assentou arraiais nas mentes modernas. Um espírito repousado nesta teologia em que nunca se pode dizer que Deus é bom sem logo fazer uma vénia respeitosa e acrescentar que o Diabo também não é mau, não vamos arreliar-nos por causa de questões tão mesquinhas ... somos todos irmões... sabe-se lá o que é a verdade...