sábado, março 20, 2004

Partir

Continuando na senda poética, tenho aqui à mão um poema de Daniel Filipe, poeta de que poucos estarão lembrados. Sobre o drama humano da emigração, que é de todos os tempos e umas vezes mais outras menos nos pode tocar a todos. Hei-lo.

Romance de Tomasinho Cara-Feia

Farto de sol e de areia,
que é o mais que a terra dá,
Tomasinho Cara-Feia
vai prà pesca da baleia.
Quem sabe se tornará?

Torne ou não torne, que tem?
Vai cumprir o seu destino.
Só nha Fortunata, a mãe,
que é velha e não tem ninguém,
chora pelo seu menino.

Torne ou não torne, que importa?
Vai ser igual ao avô.
Não volta a bater-me à porta;
deixou para sempre a horta,
que a longa seca matou.

Tomasinho Cara-Feia,
(outro nome quem lho dá?)
farto de sol e de areia,
foi prà pesca da baleia.

- E nunca mais voltará.


Daniel Filipe