terça-feira, março 30, 2004

Edital do Poeta às portas da morte (a afixar em voz alta)

É preciso que se saiba por que morro
É preciso que se saiba quem me mata
É preciso que se saiba que, no forro
Desta angústia, é da Pátria tão-somente que se trata.

Se se trata de pedir-lhe algum socorro,
O seu socorro vem a estalos de chibata...
E não ata nem desata o nó-cego deste fogo,
Que tão à queima-roupa me arrebata,

A não ser com a forca a que recorro
- E que é barata...

(É preciso que se saiba por que morro,
Enforcado no nó d'uma gravata!)

Presídio deserto ou morro,
Baldio ou bairro-da-lata:
Não importa, lá ao certo, saber onde...
Andar à cata de data...

É preciso que se saiba por que morro,
No meio deste monte de sucata!...

É preciso que se saiba por que morro
- E que és Tu, Pátria ingrata, quem me mata!