terça-feira, fevereiro 17, 2004

LIBELO

"Só conta o momento, o que passa e é superfície. Andamos sôfregos de sensações, ávidos de prazeres, deslumbrados de materialismo prático (....)
A terra, as tradições, as raízes, como o céu, o ideal e a ascensão, cortam-se, destroem-se. Fica, apenas, uma vertiginosa procura de prazer, vário, instável, sem barreiras, cínico. Cada qual só pensa no máximo de conforto e de sensações. O utilitarismo avançou até ao luxuosismo. Todos querem os luxos, mesmo quem não pode tê-los nem possui méritos para uma elevação social. Mas quem não tem posses inventa-as; e é uma onda de exploração e ludíbrio. Ao lado deste frenesim, que entontece e estilhaça, moram a rotina e o burguesismo, que corroem, espapaçam e dissolvem. Remetidas a um pacifismo interesseiro e egoísta, a um não me incomodem, as gentes querem, apenas, comer, beber, dormir, engordar e ir gozando a vida o melhor que se puder. O ideal desses tais é viver num ramerrame, na mediocridade do dia a dia, na fuga à luta e ao excepcional".