terça-feira, dezembro 30, 2003

Para os da Orada

Entre Estremoz e Borba, fica a Orada. Era em tempos idos, antes de haver automóveis e estradas nacionais, primeira estalagem obrigatória para quem vinha de Elvas, a caminho de outras vilas do reino, ou da capital. Carreiros e contrabandistas ...
Foi o berço de Azinhal Abelho, já mencionado antes neste blogue de pouca imaginação e nenhum talento.
Fica aqui esta oração profana às meninas de Nossa Senhora da Orada.

FLOREAL

Maria Maia, a da saia
de castorina amarela...
Quem é que será o faia,
que lhe há-de despir a saia,
que a há-de lograr a ela?

Seu corpo é uma obra prima,
seu corpo é uma coisa rara...
uns vinte anos trigueiros
envoltos em chita clara.

- Maria, se fores à monda;
Maria se fores ceifar,
não andes nunca sozinha...
- cansa-se a mãe de ralhar.

Maria Maia não ouve,
Maria Maia não quer
Olha para a sombra e repara
Que é uma bonita mulher.

Na vida das empreitadas,
traz o chapéu largueirão
enfeitado com giestas,
flor da sua estimação.

Os aventais barreados
com rendas e entremeios;
blusas com folhos pregados
disfarçam-lhe o arfar dos seios.

O chaile de caxemira
tapa-lhe o corpo em fermento.
E eu pergunto: oh! Mari-Maia
Onde tens o pensamento?

Carreiros e contrabandistas,
mesmo dos mais afamados
já te deitaram as vistas,
mas acharam-se enganados.

Tu a todos dizes - não.
Ela a todos desengana.
Oh! Mari-Maia, a da saia
Oh! Mari-Maia magana.

AZINHAL ABELHO