sábado, dezembro 27, 2003

Palavras e sangue

Se bem me lembro, ao iniciar este blogue foi logo com um aceno a Giovanni Papini. Un uomo finito ...
Não sabia eu quanto a sombra do genial italiano me acompanharia no percurso.
Palavras e sangue, palavras e sangue ...
Constantemente me acode o título da obrinha em que ficaram reunidos alguns contos de antologia. Li-a e reli-a já faz muito tempo, e voltei a fazê-lo outras vezes, numa edição apresentada pelo saudoso Alceu Amoroso Lima (Tristão de Ataíde), antes de também este enveredar por caminhos menos agrestes.
Palavras e sangue ... queria dizer o angustiado escritor que sem esse ingrediente não escrevia. A caneta seguia sempre embebida no líquido vital do autor.
Dor e sofrimento. Tudo o que saía dali podia consumir-se à confiança – tinha selo de garantia. Autenticidade.
Que diferença, para a água chilra que rega as artificiosas glórias literárias desta hora que passa, todos os dias apressada - mas ameaçando não passar mais!
Pela minha parte, sigo com Papini. E não se surpreenda o leitor se algum dia vir aflorar no texto algumas gotículas mais avermelhadas.