quinta-feira, novembro 20, 2003

TOSQUIA

Rente, rente, rente
A tesoura corta.
E, na tarde quente,
Junho está à porta.

Vem do campo, em volta,
Mágico fulgor
De aroma, que solta
O feno inda em flor

Aperna-se o gado,
Pra tirar-lhe a lã.
Ficou encerrado
Desde esta manhã.

Rente, rente, rente;
Que a tesoura corta
E, na tarde quente,
Junho está à porta.

Um halo de neve,
Espuma ou algodão,
Envolve de leve
As reses no chão.

Na luz forte, em roda,
Zumbem as abelhas.
E há balidos soltos
E tristes de ovelhas.

E ao soltar aquelas,
Livres, já, dos velos,
Parecem gazelas,
Em saltos singelos.

Rente, rente, rente,
A tesoura corta.
E, na tarde quente,
Junho está à porta.


Francisco Bugalho