sábado, outubro 18, 2003

Nuno Rogeiro

Tendo falado outro dia de “A Rua”, outras lembranças inevitavelmente me acudiram. Na mesma altura em que comecei a frequentar o jornal e conheci pessoalmente Múrias, como já contei, conheci também Nuno Rogeiro.
Este por tríplices razões: uma era a Faculdade de Direito de Lisboa, outra era o jornal, outra o Movimento Nacionalista.
O Nuno, transbordante de talento e de energia irreverente, não era já propriamente um adolescente; mas não sei porquê sempre que me recordo dele vem-me à ideia a descrição que outro escreveu para José António: “um adolescente luminoso”.
Na Faculdade de Direito era ele a estrela incontestável do diversificado universo nacionalista; e não se pense que era a única! Tenho eu aqui à mão um exemplar de uma lista de candidatos à Associação Académica da Faculdade de Direito de Lisboa bem demonstrativa disso.
A lista N, lista dos estudantes nacionalistas e independentes (“ontem como hoje, pelo Portugal de sempre!”), tinha como candidato a Presidente o mencionado Nuno Rogeiro (que então era já membro da assembleia de representantes da escola) e como candidatos à Direcção os estudantes Vítor Luís (o único que abandonaria o curso de Direito), Henrique Ferreira Mendes, José Filipe Nogueira, Duarte Oliveira Rocha, Teresa Amorim Girão (a maravilha fatal da nossa idade...), Paulo Teixeira Pinto, Pedro Romano Martinez, e Clemente Rogeiro.
Para outros cargos (Mesa da Assembleia Geral e Conselho Fiscal) eram ainda indicados José Lúcio, Pedro Coelho, Sérgio Sodré de Castro, Rui Oliva Neves da Silva, Armindo Real Nunes, Pedro Schiappa Ferreira.
Como apoiantes, sem integrar a lista, havia ainda Carlos Blanco de Morais, João Gabriel Gonçalves Ferreira, José Vilela, Nuno Portela, Armando Costa e Silva, Pedro Taborda Nunes de Oliveira, João Carlos Rocha ...
O itinerário pessoal do Nuno iria levá-lo para uma intensa actividade jornalística, que é por demais pública, iniciada então nas páginas de “A Rua”, depois em “O Dia”, mais tarde, e muito, em “O Diabo”, finalmente, anos depois, em “O Independente”. Para além do estatuto de comentador vedeta da nossa televisão, alcançado por alturas da guerra do Golfo, e que nunca mais perdeu.
No suplemento do semanário “O Independente” já o Nuno escreveu há anos a sua pessoal evocação das memórias da FDL, desde a altura da entrada, no pesado ambiente de vermelho carregado onde só havia lugar para a disputa entre o PCP e o MRPP, até à iniciativa libertadora do Movimento Independente de Direito e posteriormente à estruturação das juventudes partidárias, com a consequente entrada em cena do Movimento Nacionalista juntamente com o que restava do MID.
Paralelamente tem o Nuno mantido também actividade docente, em diversas escolas superiores, e frutuoso labor ensaístico, de que resultaram já diversos livros publicados.
Dos princípios jornalísticos recordo bem o apreço de Manuel Múrias. Irritava-se este com um tique do Nuno de então (com o tempo desapareceu!), que antecedia cada texto seu de epígrafes e citações, antes de entrar propriamente a dizer ao que vinha. O senhor Director lia, e logo rabujava impaciente: “já viu isto? Só metade do artigo é que é dele!”
Mas logo acrescentava que ficava irritado porque nada daquilo era preciso: dizia ele sempre que o Rogeiro era um dos homens mais inteligentes da novíssima geração. Muitos anos depois, nas nossas conversas do Chiado, o Múrias desempregado e abatido dos anos do fim fazia-me a mesma apreciação. A separação de rumos, que a vida impusera, não o tinha feito mudar de opinião, como o azedume tantas vezes faz.