quarta-feira, setembro 10, 2003

Nova Democracia?

Pelo que se constata, a nova estação política vai assistir ao lançamento a sério do Partido da Nova Democracia, de Manuel Monteiro.
Para já, está activado o sítio na internet, anuncia-se reunião magna para Fátima, e logo depois o primeiro congresso, em Famalicão.
Estive a passar os olhos pelo sítio, e designadamente a estudar a lista de fundadores – para ver quem conhecia, que nestes coisas, ao contrário do que por vezes cai bem dizer-se, os factores pessoais são realmente decisivos.
Daquilo que vi, concluí que os fundadores coincidem no essencial com um grupo que já acompanha Monteiro há anos, e que nessa medida não traz qualquer surpresa (Gonçalo Ribeiro da Costa, Nuno Correia da Silva, Helena Santo, Tomé Fernandes...)
Existe um esforço de alargamento, mas pelos vistos os resultados são escassos.
Encontro alguns nomes com mais peso e significado para mim: José Adelino Maltez, uma das poucas cabeças que pensam (e lêem...) na actual universidade portuguesa; Diogo Pacheco de Amorim, incansável combatente de todas as causas nacionais, eterno D. Quixote sempre em combate com os seus gigantes; Carlos Abreu Amorim, mais jovem, bem conhecido da blogosfera, esforçado batalhador por uma direita que idealizou...
Da recta intenção não tenho eu o direito de duvidar; e não duvido. Mas salta-me à vista a difícil composição de tal ramalhete ideológico – e a ausência de vocação especificamente política (não para o combate cultural e de ideias) que já esteve na origem de anteriores desilusões vividas por qualquer deles.
Encontro também um nome - Paulo Ferreira da Cunha – que me traz um sorriso: há vinte anos que sigo este nome, pelo que escreve; há vinte anos que gostava de conhecê-lo, e nunca o vi. A vida nunca me trouxe essa oportunidade. Mas se há pessoa, nas faculdades de Direito, cuja obra me interessa e admiro, pelos temas, pela originalidade, pelo indiscutível mérito, ele é Paulo Ferreira da Cunha. Não lhe conhecia, porém, qualquer experiência política anterior.
Que comentário deixo para os leitores deste blogue provinciano e de circulação quase clandestina?
Bom... não é possível aos portugueses lúcidos deixar de olhar o futuro com apreensão, face à incoerência e à ineficácia dos dirigentes que se sucedem, tomando as suas decisões sob a pressão dos acontecimentos ou de forças exteriores, e não seguindo um pensamento político claro e resoluto.
É nesse contexto que, no meu particular sentir, surge a necessidade de uma alternativa nacional e popular.
Poderá a Nova Democracia, e Manuel Monteiro, que agora se apresentam na arena política, construir essa alternativa? Como já calculará quem conhecer estes escritos, encaro tal hipótese com grande cepticismo.
Mas não se pense que é por considerar a actividade política como fatalmente manchada por qualquer indignidade intrínseca; pelo contrário, julgo que a política pode ser campo privilegiado para o serviço da comunidade, se essa for a determinação de quem a ela se dedica.
Que fique claro, pois, que o meu cepticismo não é acompanhado por qualquer desejo de tirar a respectiva confirmação; sinceramente, grande seria a alegria se viesse a verificar-se que a razão não está deste lado e que o nóvel agrupamento se constitui para o povo português como uma séria e verdadeira esperança de mudança e regeneração.
O futuro dirá se tudo não passa de fumaças – pois partidos leva-os o vento, como diz o malvado BOS.